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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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TROMBOEMBOLISMO – NEM SEMPRE UM DIAGNÓSTICO EXCLUSIVO DO ADULTO

Margarida Almendra1, Mara Branco2, Catarina Borges3, Anaxore Casimiro1

1 - Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central
2 - Serviço de Pediatria, Hospital de Vila Franca de Xira
3 - Unidade de Adolescentes, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central

- Reunião Nacional: 10º Congresso Nacional de Medicina do Adolescente

Resumo:
Introdução: O tromboembolismo venoso (TEV) é uma entidade rara em idade pediátrica (incidência anual estimada 0.14-0.21 por 10,000), mais frequente em doentes hospitalizados, sobretudo na presença de cateteres venosos centrais, e em doentes com condições médicas subjacentes, nomeadamente malignidade e doença cardíaca. Outro fator de risco importante é o uso de contracetivos orais, particularmente relevante na adolescência. Aproximadamente 15% dos casos de TEV desenvolve também tromboembolismo pulmonar (TEP).
Descrição:  Adolescente de 15 anos, sexo feminino, com obesidade grave (IMC 40kg/m2), sob contraceção combinada oral (COC) há 2 meses, por iniciativa própria. Dos antecedentes familiares, a destacar, pai com história prévia de flebotrombose do membro inferior direito. Recorre ao serviço de urgência por dor e edema do membro inferior esquerdo (MIE), com 2 dias de evolução e incapacidade para a marcha. Sem outra sintomatologia, nomeadamente, toracalgia ou dispneia. Sem história de traumatismo, viagem de longo curso ou infeção recente. À admissão, febril, eupneica, SpO2 100% em ar ambiente, edema exuberante e duro do MIE com diminuição da sensibilidade, acompanhado de rubor e calor da face interna da coxa, com pulso pedioso filiforme. Analiticamente, elevação dos parâmetros inflamatórios (18800/uL leucócitos, PCR 175.1 mg/L) e dos D-dímeros (35200 ug/L). Imagiologicamente, ecodoppler venoso com descrição de flebotrombose extensa da femoral comum e terço superior da femoral superficial à esquerda; angio-TC compatível com TEP bilateral, não oclusivo, sem sinais de sobrecarga cardíaca direita; TEV esquerdo iliofemoral e síndrome de May-Thurner. Iniciou heparina não fracionada, ajustada até níveis terapêuticos de tromboplastina parcial ativada (aPTT), e posteriormente alterada para enoxaparina com incremento adaptado à função da atividade anti-Xa. Durante o internamento, evolução favorável com regressão do edema, recuperação da mobilidade e ausência de queixas álgicas. À data da alta, alterada anticoagulação para dabigatrano e proposta para cirurgia bariátrica. Do estudo das trombofilias, FVIII aumentado (336.8%, VR: 53 -131), sem outras alterações.
Discussão: Apesar da incidência ser muito inferior à da população adulta, os fenómenos tromboembólicos têm vindo a aumentar na Pediatria. A apresentação inicial pode ser inespecífica, sendo necessário um alto grau de suspeição, principalmente na população adolescente em que se reconhecem fatores de risco como obesidade, tabagismo e uso de COC. A anticoagulação deverá ser mantida por um período de tempo prolongado, o que torna os novos anticoagulantes orais, que dispensam monitorização de rotina, cada vez mais atrativos. No entanto, apenas o dabigatrano está atualmente aprovado em idade pediátrica.

Palavras Chave: novos anticoagulantes orais; obesidade; síndrome de May-Thurner; tromboembolismo venoso; tromboembolismo pulmonar