1 - Serviço de Cirurgia Pediátrica, Hospital Central do Funchal
2 - Serviço de Cirurgia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
- XII Jornadas do Médico Interno da Região Autónoma da Madeira, 15-18 de Setembro de 2021, Funchal
Resumo:
Introdução: Numa era em que as viagens de avião (lazer, estudo ou trabalho) foram massificadas, com mais de 4 biliões de passageiros transportados em todo o Mundo em 2019, o risco de um evento médico, fora da sua residência, com necessidade de intervenção cirúrgica aumentou. A informação disponibilizada nos websites das várias companhias aéreas sobre quando podemos viajar após uma cirurgia é variável. Para os cirurgiões, principalmente de regiões turísticas e dependentes do transporte aéreo, tornou-se fundamental o conhecimento das alterações fisiológicas que este tipo de transporte pode acarretar num pós-operatório de forma a evitar complicações indesejáveis em pleno voo.
Objectivo: Compreender as alterações fisiológicas que ocorrem na cabine durante a viagem e a sua interferência e/ou limitação na realização de um voo comercial após um procedimento cirúrgico.
Métodos: Trabalho baseado em 2 documentos: Medical Manual 11th Edition da International Air Transport Association (IATA) e no Medical Guidelines for Airline Travel da Aerospace Medical Association.
Resultados: O nosso corpo foi criado para existir na superfície da Terra com forças gravitacionais estáveis. No avião comercial existem fatores, como a altitude, a pressão, a temperatura, a humidade e o espaço, que vão influenciar a nossa adaptação ao ambiente da cabine. Em termos cirúrgicos, os fatores influenciadores são a altitude e a pressão. Pela Lei de Bowler, que descreve a relação inversa entre a pressão e o volume de um gás num sistema fechado e a uma temperatura constante, o aumento da altitude, e consequente diminuição da pressão de um gás, causa uma expansão do ar contido no interior das cavidades corporais em 25-30%. Esta expansão do gás pode causar barotrauma no ouvido médio, nos seios paranasais, no tórax e no abdómen, principalmente no seguimento de procedimentos cirúrgicos. As recomendações são para viajar após 24h, se realizada laparoscopia exploradora, colonoscopia ou cirurgia da catarata; após 3 dias, se angioplastia com ou sem colocação de stent; após 5 dias, se cirurgia abdominal simples ou laparoscópica simples (apendicectomia, colecistectomia, cirurgia tubária); após 10 dias, se cirurgia abdominal major (resseção intestinal, histerectomia, cirurgia renal), cirurgia torácica, cirurgia cardíaca, cirurgia neurocirúrgica, cirurgia do ouvido médio ou amigdalectomia.
Conclusão: O ambiente da cabine de um voo comercial tem várias particularidades em comparação com outros meios de transporte. Com o aumento exponencial das viagens aéreas, a segurança para viajar após um procedimento cirúrgico tornou-se imperativa tanto para a classe médica, como para a tripulação de voo e para o doente, de forma a reduzir a morbimortalidade associada a viagens precoces.
Palavras-Chave: viagens aéreas; pós-operatório; barotrauma