1 - Unidade de Infecciologia Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
2 - Serviço de Imagiologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
- 17ªs Jornadas da Sociedade de Infecciologia Pediátrica, 6 a 7 maio 2021
Resumo:
Introdução: Na doença de células falciformes existe um risco acrescido de complicações respiratórias decorrentes de infeção bacteriana ou fenómenos trombóticos com síndrome torácico agudo (STA). As infeções virais podem predispor a complicações e a pandemia SARCoV2 veio acrescentar mais um desafio à etiologia da pneumonia num doente com doença de células falciformes (DCF).
Relato de caso: Adolescente de 16 anos com DCF genótipo HbSS e fenótipo grave com antecedentes de dois internamentos por STA, medicado com hidroxicarbamida, também com défice de G6PD e cardiopatia valvular foi internado por febre, tosse e toracalgia. O murmúrio vesicular estava globalmente diminuído e tinha hipoxemia grave com necessidade de oxigénio por concentrador a 15L/min. Analiticamente apresentava hemoglobina 5,6g/L com reticulócitos 8,7% e bilirrubina total 3,60mg/dL. Registava leucocitose 15310/uL com neutrofilia 11280/uL, PCR 214,7mg/L, procalcitonina 5,61ng/mL, IL-6 132,00pg/mL, ferritina 2167,0ng/mL, Amiloide A 133,00mg/L, fibrinogénio3,3 g/L e D-Dímero 3074,0μg/L. A radiografia do tórax apresentava condensação esquerda. Havia contexto intrafamiliar de infeção SARS-CoV-2 e a PCR SARS-CoV-2 foi positiva (CT gene orf 30.8, gene e 32). A TC tórax revelou extensa condensação parenquimatosa do lobo inferior esquerdo e áreas em vidro despolido, compatíveis com pneumonia COVID e infeção bacteriana, excluindo STA. Foi medicado com cefotaxime e azitromicina, remdesivir, corticóide inalado, broncodilatadores e enoxaparina profilática. Necessitou de três transfusões de concentrado eritrocitário e manteve oxigenoterapia com desmame gradual durante 5 dias. Verificou-se melhoria clínica e laboratorial progressiva com apirexia em D8 de internamento. Actualmente está referenciado para realizar provas de função respiratória, seis meses após este evento.
Discussão: A pneumonia COVID-19, a pneumonia bacteriana e STA partilham características clínicas, laboratoriais e radiológicas que se podem sobrepor, que condiciona decisões na abordagem terapêutica e torna o diagnóstico diferencial especialmente desafiador.
Palavras Chave: COVID-19; Drepanocitose; Pneumonia