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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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PERITONITE AGUDA COMO APRESENTAÇÃO DE DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA RECORRENTE

Mafalda Félix Cabral1; Beatriz Luzio Vaz1; Leonor Sassetti1; Margarida Alcafache1; Rita Coelho1

1 - Unidade de Adolescentes, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

- Reunião Nacional: 10º Congresso Nacional de Medicina do Adolescente

Resumo:
Introdução:  A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma infeção do trato genital superior, que surge como complicação de infeção sexualmente transmissível (IST) não tratada. O espectro clínico é amplo, desde apresentação subclínica a potencialmente fatal, com atingimento de órgãos extra-genitais, e complicações a longo-prazo (dor pélvica crónica, gravidez ectópica e infertilidade). A recorrência de DIP é mais frequente na adolescência.
Descrição:  Adolescente de 16 anos, sexo feminino, com antecedentes pessoais de absentismo escolar, consumo regular de tabaco, haxixe e álcool. Seguida em Pedopsiquiatria por perturbação de ansiedade generalizada e social. Diagnóstico de DIP 10 meses antes, altura em que foi submetida a laparotomia por suspeita de apendicite, não confirmada intra-operatoriamente. Na urina foi identificada Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae (teste de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT)), tendo sido medicada com doxiciclina e metronidazol com resolução do quadro. O controlo pós-tratamento foi negativo. A referir, início da vida sexual aos 15 anos, múltiplos parceiros sexuais e uso irregular de método contracetivo de barreira. Recorreu ao Serviço de Urgência por dor abdominal tipo cólica na fossa ilíaca esquerda, acompanhada de vómitos, diarreia e disúria, com 24 horas de evolução. Negava febre, corrimento vaginal anómalo ou amenorreia. À admissão: queixosa, com dor difusa à palpação e à descompressão na fossa ilíaca direita e esquerda. Analiticamente: leucocitose de 16.780/uL, neutrofilia de 15.350/uL (91%) e proteína-C-reativa de 269mg/L. Urina II: 55 leucócitos/uL. Teste imunológico de gravidez negativo. Ecografia abdominal: ansas jejuno-ileais distendidas e adenomegálias reativas. Ecografia pélvica transvaginal: indolor à mobilização do colo cervical; endométrio e ovários sem alterações; líquido não puro na cavidade pélvica. Tomografia computorizada abdomino-pélvica: achados sugestivos de colite aguda do sigmóide, conteúdo líquido purulento adjacente e sinais de peritonite. Iniciou antibioterapia endovenosa com cefotaxima, gentamicina e metronidazol. Pela possibilidade de recorrência de DIP foi adicionada doxiciclina. A evolução foi favorável. Hemoculturas e coproculturas revelaram-se negativas. A identificação de Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae (NAAT na urina) permitiu o diagnóstico de DIP. O rastreio de outras ISTs foi negativo. Foi colocado implante anticoncepcional e referenciada a Consulta de Adolescentes.
Discussão:  O diagnóstico de DIP deve ser equacionado em toda a adolescente sexualmente ativa com dor nos quadrantes abdominais inferiores. Não existindo nenhum exame gold-standard, o diagnóstico clínico pressupõe um elevado índice de suspeição e deve motivar terapêutica empírica para prevenção de complicações a curto e longo-prazo. A prevenção de ISTs deve ser uma temática abordada, sistematicamente, pelos profissionais que cuidam de adolescentes.

Palavras Chave: Adolescência; Doença inflamatória pélvica; Infeções sexualmente transmissíveis; Peritonite