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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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ORBITOPATIA DE GRAVES EM IDADE PEDIÁTRICA: DIFERENTES GRAVIDADES, DIFERENTES TRATAMENTOS

David Veríssimo1, Ana Catarina Fernandes2, Ana Filipa Duarte3, Lurdes Lopes4

1 - Serviço de Endocrinologia, Hospital das Forças Armadas, Pólo de Lisboa
2 - Serviço de Pediatria, Hospital de Santarém
3 - Serviço de Oftalmologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central
4 - Serviço de Endocrinologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central

- Reunião nacional
- Apresentação como poster

Resumo:
Introdução: A orbitopatia associada a patologia tiroideia é pouco frequente (taxa de incidência de 1,7-3,5 casos/100000 habitantes) e ainda mais rara nas crianças e adolescentes (0,79-6,6 casos/100000 crianças), mais prevalente no sexo feminino e adolescentes (68,2% dos 11-18 anos). Apresentamos dois casos de orbitopatia de Graves, com abordagens terapêuticas distintas. Caso Clínico 1: Criança, sexo masculino, 7 anos, avaliado em consulta de Endocrinologia Pediátrica por hiperatividade, hiperfagia, hipersudorese e diarreia. Observação: exoftalmia bilateral, eritema palpebral e hiperemia conjuntival [score de atividade clínica (CAS) 3 e gravidade ligeira]. Analiticamente: TSH 0,01uUI/mL (0,4-5uUL/mL), T4 livre 0,75ng/dL (0,7-1,8ng/dL), T3 livre 4,65ng/mL (2,5-3,9ng/mL), TRABs 15,4U/L (normal <1U/L). Ecografia tiroideia: dimensões aumentadas, nodulariforme, sugestivo de tiroidite. TC Órbita: exoftalmia bilateral por espessamento dos músculos rectos inferiores e interno direito. Iniciou tratamento com tiamazol 3,5 mg/dia (94,6ug/kg/dia), propranolol 10mg/dia e, após observação por Oftalmologia, gotas oculares lubrificantes e selénio 100mg/dia com melhoria das queixas sistémicas e oculares. Na última consulta sem exoftalmia, em eutiroidismo, TRABs 2,4 u/L, sob tiamazol 2,5mg/dia (30,5ug/kg/dia). Caso Clínico 2: Adolescente, sexo masculino, 13 anos, enviado por Oftalmologia à consulta de Endocrinologia Pediátrica para controlo e desmame de corticoterapia (prednisolona 50mg/dia), iniciada dois meses antes por orbitopatia de Graves (CAS 6 e gravidade moderada); já sob tiamazol 10mg/dia (170,6ug/kg/dia). Observação: exoftalmia bilateral, dor ocular ligeira, hiperemia conjuntival. Analiticamente: TSH &lt;0,004uUI/mL, T4 livre 4,74ng/dL, T3 total 6,7ng/mL (0,9-1,8ng/mL) e TRABs 198U/L. Ecografia tiroideia: dimensões aumentadas, parênquima difusamente heterogéneo. TC Órbita: espessamento dos músculos rectos internos, superior e inferior bilateralmente. Após discussão com Oftalmologia manteve a corticoterapia e ajustou-se a dose do antitiroideu pelo hipertirodismo franco e clínica mantida. Seis meses depois foi possível iniciar desmame lento de corticoterapia. Na última consulta sem exoftalmia ou queixas oculares, em eutiroidismo, TRABs 2,9U/L, sob tiamazol 3,5mg/dia (50,8ug/kg/dia).
Discussão: Os casos apresentados mostram que embora os sintomas de orbitopatia na população pediátrica sejam geralmente ligeiros e autolimitados, em casos pontuais são necessários tratamentos dirigidos, pelo que todas as crianças com patologia tiroideia devem ser observadas em Oftalmologia.