1 - Unidade de Genética Médica, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
2 - Serviço de Neuropediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
3 - Unidade de Oftalmologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
- Reunião nacional - 15.º Congresso da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria, publicação sob a forma de resumo, comunicação em poster
Resumo:
Introdução: A microdeleção 15q13.3 em heterozigotia (OMIM#612001) associa-se a múltiplos fenótipos de perturbação do neurodesenvolvimento, incluindo défice intelectual, autismo e epilepsia, com penetrância incompleta. A homozigotia ou a heterozigotia composta para esta região são eventos raros. Nestes, o fenótipo é mais grave e tem sido consistente: hipotonia, disfunção da retina congénita, epilepsia refratária, encefalopatia e défice inteletual.
Caso clínico: Lactente de 3 meses, primeira filha de um casal jovem e não-consanguíneo, foi referenciada por hipotonia e suspeita de amaurose. À observação, sem dismorfias significativas, sem controlo cefálico, com nistagmo horizontal, desvio intermitente do olhar conjugado, e sem conseguir fixar ou seguir objetos. Fundoscopia, neuroimagem e rastreio metabólico normais. O eletroencefalograma mostrou sobrecarga lenta focal na região central e temporal direita com sobreposição de ondas abruptas com aparente potencial epileptogénico. O estudo genético por microarray indicou a presença de duas deleções em heterozigotia composta na região 15q13.3: uma deleção de 1.6 Mb num dos cromossomas 15, e uma deleção de 462 kb no segundo cromossoma 15, resultando na nulissomia de um segmento de 462 kb a englobar o gene CHRNA, gene candidato para as manifestações clínicas. O estudo familiar subsequente confirmou que as deleções foram herdadas de cada um dos progenitores saudáveis. Aos 6 meses de idade, desenvolveu as primeiras convulsões, controladas com topiramato. Estão programadas reavaliações para vigilância do neurodesenvolvimento e função visual. O casal foi aconselhado quanto aos riscos de recorrência, e disponibilizado planeamento familiar.
Conclusões: A homozigotia ou a heterozigotia composta para a região 15q13.3 são raras e representam uma causa adicional de alterações neurológicas graves. Este caso suporta a relevância do microarray como primeira linha na investigação das perturbações do neurodesenvolvimento, incluindo hipotonia e epilepsia. Adicionalmente, mostra o papel do diagnóstico molecular na determinação do prognóstico, programação de vigilância clínica e aconselhamento genético de familiares.
Palavras Chave: Microdeleção 15q13.3, epilepsia, hipotonia