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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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MENINGITE TUBERCULOSA: EVOLUÇÃO RARA MAS GRAVE AO LONGO DE 21 ANOS

Inês Belo, Ana Margarida Garcia, Tiago Milheiro Silva, Catarina Gouveia, Flora Candeias, Maria João Brito

1 - Departamento de Infeciologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa

- Apresentação sob a forma de comunicação oral numa reunião nacional – 17as Jornadas de Infeciologia Pediátrica

Introdução: A meningite tuberculosa (MT) é uma entidade rara, responsável por 0,7% de todos os casos de tuberculose (TB). A sua incidência está relacionada com a prevalência de TB na comunidade. Em Portugal, desde 2017 que a vacina BCG é administrada apenas em grupos de risco e a incidência da doença não tem aumentado em idade pediátrica.
Objetivo: Caracterizar a MT num hospital de nível III e a evolução ao longo dos anos.
Metodologia: Estudo descritivo de doentes internados com MT, de Janeiro 2000 a Fevereiro de 2021 (21 anos).
Resultados: Identificámos 13 casos, com uma mediana de idades de 10 anos (mín-6meses, máx-17anos), 8/13 (61,5%) do sexo feminino, 11/13 (84,6%) de origem portuguesa. Apenas uma criança era proveniente de PALOP e outra da Índia. O número de casos manteve-se constante ao longo dos anos. Três crianças tinham patologia crónica: infeção VIH (1), défice IgA (1) e imunodeficiência comum variável (1). A maioria (84,6%) tinha vacina BCG. Identificou-se um caso índex em 8/13 (61,5%) doentes. A clínica cursou com febre (13), alteração do estado de consciência (11), cefaleia/vómitos (8), tosse (3), ataxia (2), convulsão (2), hemiparesia/disartria (1). Em 7/13 crianças, na admissão a evolução da doença era superior a 14 dias. A prova tuberculínica foi positiva apenas num doente e o IGRA em duas crianças. A identificação de Mycobacterium tuberculosis por microbiologia/biologia molecular ocorreu em 5/13 (38,5%) doentes. Registou-se apenas um caso de tuberculose multirresistente em 2008. A corticoterapia realizou-se em 12/13 (92,3%) crianças. Sete doentes necessitaram de cuidados intensivos. Observaram-se complicações em 84,6% casos: hidrocefalia (5), convulsões (4), parésia de nervos cranianos (4), défices motores (4), coma (3), acidente vascular cerebral (3) e trombose venosa (1). Uma criança faleceu em 2008 e o diagnóstico foi realizado posmortem.
Discussão/Conclusão: A MT mantem-se uma doença rara, mas grave. Deve ser considerada na presença de sintomas inespecíficos ou subagudos de infeção neurológica, mesmo na ausência de sintomas respiratórios ou contexto epidemiológico.  A baixa sensibilidade dos exames complementares de diagnóstico, torna necessário um elevado nível de suspeição para o tratamento atempado pois a morte pode ocorrer como resultado de diagnóstico incorreto e tratamento tardio.

Palavras Chave: meningite tuberculosa, tuberculose, infeção sistema nervoso central