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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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INTERAÇÃO SOCIAL EM INÍCIO DE VIDA, SINAPTOGÉNESE E PLASTICIDADE – A IMPORTÂNCIA DOS MODELOS DE INTERVENÇÃO PRECOCE

Nádia Barradas1; Halpern CM2

1 - Interna de Formação Específica em Psiquiatria da Infância e da Adolescência, Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
2 - Neuropediatra. Centro de Estudos do Bebé e da Criança, Unidade de Desenvolvimento. Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa

- Reunião nacional sob o formato de poster eletrónico – XXXI Encontro Nacional da APPIA

Introdução: A qualidade das relações estabelecidas em início de vida influencia a saúde e o bem-estar dos indivíduos até à idade adulta, mas a influência da qualidade da relação cuidador-bebé e da sua variabilidade normal no desenvolvimento da criança está menos bem caracterizada.
Metodologia: Esta revisão científica visa caracterizar a influência da relação bebé-cuidador no neurodesenvolvimento e bem-estar da criança, bem como a importância da criação e aplicação de modelos de intervenção precoce. Foi realizada através da análise cuidada da evidência científica disponível nas plataformas eletrónicas MEDLINE, Embase e Cochrane Library.
Resultados: Estudos em modelos animais mostram que o nível de cuidados maternos, incluindo lamber e limpar e amamentar com o dorso arqueado, influencia o desenvolvimento cognitivo das crias. Nas crias de mães com mais comportamentos de lamber e limpar (Mais-LL) e mais momentos de amamentação com dorso arqueado, parecem existir alterações importantes no hipocampo, associadas ao aumento da sinaptogénese e das capacidades de atenção visuo-espacial e memória, incluindo: o aumento da expressão do fator neurotrófico derivado do cérebro (brain-derived neurotrophic factor, BDNF) e dos recetores de N-metil-D-aspartato (NMDAR) e de glicocorticóides (GCR); o inverso acontece nas crias de mães Menos-LL (com menos comportamentos de lamber e limpar). Esta variação parece ser mediada por alterações epigenéticas que dependem do comportamento materno, como demonstram estudos de adopção-cruzada. As alterações surgem em ratinhos logo na primeira semana de vida, são estáveis e podem persistir até à idade adulta, mas o tratamento farmacológico e a exposição a experiências enriquecedoras parece reverter esses efeitos
Conclusões: Parece existir uma relação direta entre o comportamento materno e o desenvolvimento do hipocampo, através de alterações no epigenoma, que pode ser determinado por modelos comportamentais; este processo é dinâmico e parece ser reversível. Apesar das limitações inerentes à extrapolação a partir de modelos animais, estes resultados apoiam o estudo e validação de modelos de intervenção precoce. Estas intervenções visam a reabilitação da relação bebé-cuidador, através da promoção da plasticidade dependente da experiência e da motivação inata para a aprendizagem, típicas dos primeiros anos de vida.

Palavras-chave: “Development” E “Early life” E “Epigentic” E “Maternal care” OU “Maternal behavior” “ E “Synaptogenesis”