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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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IMPACTAÇÃO ESOFÁGICA DE PILHA

Catarina Santiago Gonçalves1, Inês Martins Silva1, Margarida Almendra1, Sofia Carneiro1, Rui Rodrigues2, Paulo Calvinho3, Rui Alves4, João Estrada1,2

1 - Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central,
2 - Serviço de Cirurgia Cardíaca, Hospital de Santa Marta, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central,
3 - Serviço de Cirurgia Torácica, Hospital de Santa Marta, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central,
4 - Serviço de Cirurgia Pediátrica, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

- 21º Congresso Nacional de Pediatria, reunião nacional, poster

Introdução: A impactação esofágica de corpo estranho (IECE) é uma emergência médica. Pode ser assintomática ou causar recusa alimentar, disfagia ou sintomas respiratórios. As pilhas, em particular, associam-se a uma elevada morbimortalidade pelo risco de ulceração e fistulização.
Caso clínico: Criança do sexo feminino, 4 anos, 8,3kg, evacuada da Guiné-Bissau por suspeita de ingestão de corpo estranho (ICE) há 2 anos. Tosse produtiva e vómitos pós-prandiais persistentes condicionando um estado de desnutrição grave que motivou internamento no país de origem por suspeita de tuberculose pulmonar. Radiografia tórax evidenciou corpo estranho redondo, radiopaco e com dupla borda periférica, compatível com pilha (CR203). Em Portugal, durante a anestesia para colocação de CVC, paragem cardiorrespiratória por dessaturação grave e insuflação gástrica apesar de tubo endotraqueal bem posicionado. Suspeita de fístula bronquioesofágica esquerda (FBEE). Decidida entubação endotraqueal (EET) seletiva do brônquio direito. TC-torácica confirmou corpo estranho impactado no esófago proximal, sinais de mediastinite crónica, atelectasia crónica do pulmão esquerdo e bronquiectasias; à direita, áreas de consolidação em contexto de pneumonia de aspiração. Manteve EET selectiva 2 dias, com melhoria progressiva de acidose respiratória sob estratégia ventilatória protectora. Broncofibroscopia em D2 que documentou FBEE. Em D5, em centro cirúrgico especializado, realizou toracotomia posterolateral direita com dissecção da FBEE; encerramento do defeito brônquico (patch) e defeito esofágico (sutura direta); drenagem mediastínica e pleural; verificou-se migração do corpo estranho para a cavidade gástrica e consequente remoção por gastrotomia e construção de gastrostomia de Stamm. Extubada em D8 pós-operatório. Cumpriu vancomicina e meropenem. Sem intercorrências hemodinâmicas.
Conclusão:  Este caso reflete a necessidade de diagnóstico e intervenção precoces na suspeita de ICE, minimizando o aparecimento de complicações graves e sequelas irreversíveis. A ventilação mecânica destes doentes pode ser um desafio e a EET seletiva uma ferramenta útil. O nosso doente apresentou algumas das complicações mais graves atribuíveis a ingestão de pilha, evoluindo favoravelmente.

Palavras Chave: impactação esofágica, pilha, fístula bronquioesofágica, cuidados intensivos pediátricos