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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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FLEIMÃO RETROFARÍNGEO COMO APRESENTAÇÃO DE SÍNDROME INFLAMATÓRIA MULTISSISTÉMICA NA CRIANÇA

Cristiana Costa1, Rita Valsassina1, Ana Margarida Garcia1

1 - Unidade de Infeciologia Pediátrica, Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa

- Reunião internacional, 39th Annual Meeting of the ESPID

Resumo
Introdução: A Síndrome Inflamatória Multissistémica na Criança (MIS-C) é uma complicação da COVID-19. Os doentes com MIS-C podem apresentar uma vasta variedade de alterações clínicas, no entanto existe escassa informação na literatura no que respeita às apresentações atípicas do MIS-C.
Relato de caso: Um rapaz de origem africana de 12 anos apresentou-se com febre com 1 semana de evolução, odinofagia, cervicalgia, vómitos, torcicolo e hipertrofia amigdalina, com 10200/mcL leucócitos, 82% neutrófilos e proteína C-reativa (PCR) de 127 mg/L. A pesquisa de antigénio do Streptococcus do grupo A no exsudado faríngeo foi negativa. A TC de pescoço realizada mostrou um fleimão retrofaríngeo e múltiplas adenopatias cervicais bilaterais, tendo iniciado antibioterapia com clindamicina e penicilina. Manteve febre e apresentou de novo hiperemia conjuntival bilateral. A reavaliação analítica demonstrou: linfopenia de 540/mcL, D-dímeros 2704 g/L, albumina 23,7 g/L, PCR 256.9 mg/L, procalcitonina 6.25 ng/mL, velocidade de sedimentação 76 mm/h, IL-6 214,30 pg/mL, proteína amiloide A 420 mg/L, ferritina 720 ng/mL e ainda, troponina I 45,9 ng/mL, NT-proBNP 5144 pg/mL. A rt-PCR para o SARS-CoV-2 e serologia foram ambas positivas. O ecocardiograma mostrou ectasia da artéria coronária esquerda e da descendente anterior (z-score +4.78 e +4.95, respetivamente). Para além disso, a TC de tórax realizada revelou um padrão de densificação alveolar em vidro despolido e áreas de infiltrado alveolar subsegmentares periféricas condensantes bibasais e derrame pleural laminar bilateral. Foi assumido o diagnóstico de MIS-C e iniciou terapêutica com imunoglobulina IV 1 g/kg durante 2 dias, metilprednisolona 40 mg 2 vezes ao dia, ácido acetilsalicílico 30 mg/kg e enoxaparina profilática. Houve resolução complete da febre e franca melhoria na ectasia das coronárias e nas avaliações analíticas subsequente, no que respeita aos parâmetros de inflamação.
Conclusões: A presença de um fleimão retrofaríngeo, também descrito na doença de Kawasaki, não exclui a possibilidade do diagnóstico de MIS-C. A ausência de melhoria do doente, apesar da instituição da antibioterapia, a persistência dos marcadores de inflamação elevados e o envolvimento multiorgânico colocaram-nos a possibilidade de outro diagnóstico.

Palavras Chave: COVID-19, Fleimão retrofaríngeo, MIS-C