1 - Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
2 - Serviço de Reumatologia Pediátrica, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
3 - Serviço de Gastrenterologia Pediátrica, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
- 42ª reunião anual da SPAIC, publicação sob forma de resumo
Resumo:
Introdução: A estomatite de contacto alérgica (ECA) é uma doença inflamatória secundária a uma reacção de hipersensibilidade mediada por células T contra alergénios que contactam com a mucosa oral. As lesões aftosas dolorosas surgem 12-72 horas após o contacto com o alergénio e o tratamento baseia-se na sua evicção. Apresentamos um caso raro de ECA ao ovo.
Relato de caso: Menino, 13 anos, refere desde os 11 anos episódios recorrentes de úlceras dolorosas da mucosa oral com limitação da alimentação e comunicação. As lesões resolvem em 1-2 semanas, sem lesão residual. Concomitantemente, observou-se cruzamento do P25 para o P10 do peso e altura. Negava febre, lesões genitais ou oculares e queixas sistémicas. Foi avaliado em consulta de Gastroenterologia e Reumatologia, tendo sido colocadas as hipóteses de doença inflamatória intestinal e doença de Behçet. Realizou endoscopia digestiva alta, colonoscopia, ecografia abdominal e avaliação laboratorial dirigida sem alterações patológicas. Iniciou tratamento com colchicina, sem melhoria. O doente começou a verificar que as lesões surgiam 6-48 horas após ingestão de ovo e, de forma menos consistente, após ingestão de tomate, trigo e leite de vaca. Neste contexto foi avaliado em consulta de Imunoalergologia. Os TCP com extrato comercial de clara e gema de ovo, leite de vaca e trigo foram negativos. Os testes epicutâneos com leite de vaca, pão de trigo, clara e gema de ovo e tomate foram negativos na leitura às 48 horas. No entanto, às 72 horas, observou-se aparecimento de discreto eritema e papulação nos locais de aplicação de clara e gema de ovo. Admitida a hipótese diagnóstica de ECA ao ovo, foi dada indicação para evicção com resolução dos episódios. Posteriormente, refere ter reintroduzido o ovo com reaparecimento de lesões aftosas da mucosa oral.
Conclusões: O diagnóstico diferencial de lesões aftosas recorrente é vasto. A história clínica e a ausência de alterações dos meios complementares de diagnóstico, permitiram excluir doenças auto-imunes, doenças hematológicas, síndromes associadas a febre, défices nutricionais e traumatismo local. Neste caso clínico, a associação da ingestão de ovo com o desenvolvimento de lesões aftosas dolorosas, não imediatas, o resultado positivo às 72 horas dos testes epicutâneos com clara e gema de ovo e a não recorrência das lesões durante a dieta de evicção de ovo com reaparecimento após a sua reintrodução, suportam o diagnóstico definitivo de ECA ao ovo.
Palavras Chave: Alergia alimentar, ovo, estomatite de contacto.