UCIN HDE, Gabinete de Segurança do Doente CHULC
- Apresentação oral em webinar. Curso online SPEQS. 23 de Junho 2021
Resumo: O erro diagnóstico em pediatria ameaça a segurança do doente por condicionar atraso ou omissão de um plano terapêutico correto. Tem como causa mais frequente a falha na obtenção de informação através da historia clínica, do exame objetivo ou do processo clínico, associada muitas vezes a falhas na comunicação ou coordenação dentro da equipa. Em pediatria, os erros identificados com maior frequência são o diagnóstico de uma doença viral como bacteriana, o reconhecimento dos efeitos secundários de medicamentos, as doenças do foro psiquiátrico e a apendicite. O erro ou atraso diagnóstico com maior repercussão no tratamento e prognóstico e ao qual se associa maior risco de morte é o atraso na deteção de uma infeção ou deterioração clínica graves na criança com idade inferior a 1 ano, com antecedentes de prematuridade ou com doença congénita malformativa. Nestas situações, o reconhecimento precoce dos sinais e sintomas de gravidade é crucial. As dificuldades no estabelecer de um diagnóstico podem relacionar-se com a recolha de dados (historia clínica ou exame objetivo), o processamento de dados (síntese, desconhecimento, precipitação ou omissão de dados importantes) ou confirmação (diagnóstico diferencial incorreto, erros nos exames auxiliares de diagnóstico ou na sua interpretação). Nas unidades de cuidados intensivos pediátricas e neonatais o risco do erro diagnóstico é mais elevado e os dados de autopsia identificam até 20% das mortes com erro diagnóstico major, na sua maioria relacionados com o não reconhecimento de infeção ou de eventos vasculares graves. Nas situações de processos legais imputados à pediatria, os erros diagnósticos mais frequentes relacionam-se com o reconhecimento tardio da meningite, da apendicite, da pneumonia e da lesão cerebral. A dificuldade inerente ao diagnóstico em pediatria prende-se com a baixa probabilidade de uma criança ter uma doença grave associada às consequências devastadoras de não reconhecer e não tratar essa mesma situação. A fisiopatologia das crianças, as variações na comunicação e no exame objetivo e o impacto do ambiente e da família são também relevantes no processo diagnóstico. É fundamental conhecer os vieses cognitivos, ter acesso a profissionais experientes a protocolos e discutir as razões subjacentes às decisões diagnósticas.