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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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ATAXIA AGUDA PÓS COVID-19

Beatriz Luzio Vaz1, Ana Margarida Garcia1, Teresa Painho2, Maria João Brito1

1 - Unidade de Infecciologia, Hospital Dona Estefânia. CHULC
2 - Serviço de Neurologia, Hospital Dona Estefânia. CHULC

- Apresentado sob a forma de Poster nas 17ª Jornadas de Infecciologia da Sociedade de Infecciologia Pediátrica

Resumo:
Introdução: O novo coronavírus 2019 (COVID-19) afeta o sistema nervoso em adultos, com sintomas que incluem anosmia/ageusia, cefaleia, ataxia, ou sintomas psiquiátricos. O envolvimento neurológico grave inclui encefalopatia ou encefalite, convulsões, mielite transversa, ​​síndrome de Guillain-Barré e acidente vascular cerebral, mas em crianças e adolescentes é raro (3,5%) e o espectro desta entidade não está ainda bem estabelecido.
Relato de caso: Criança de 2 anos de origem africana, previamente saudável que recorre ao serviço de urgência por quedas frequentes e lentificação do discurso com duas semanas de evolução. Referia infeção respiratória alta prévia no mês anterior. Na observação constatava-se disartria, ataxia da marcha, dismetria e tremor de intenção. A pesquisa de tóxicos foi negativa. A tomografia axial computorizada crânio-encefálica (TAC CE) não apresentava alterações, mas a ressonância magnética nuclear crânio-encefálica (RM CE) evidenciou hipersinal em T2 dos núcleos dentados, traduzindo cerebelite em contexto de infeção viral. A PCR de vírus respiratórios nas secreções detectou adenovírus. O exame citoquímico do líquido cefalorraquidiano (LCR) era normal com PCR para vírus herpes, enterovirus e adenovírus negativa e síntese intratecal sem alterações. A investigação subjacente revelou PCR SARS-CoV-2 negativa, mas anticorpos SARS-CoV-2 2500U/mL no sangue e 9,38U/mL no LCR. O diagnóstico foi de cerebelite pós-infeciosa a SARS-CoV-2 pelo que foi medicado com imunoglobulina endovenosa 1g/Kg dois dias e metilprednisolona 2 mg/kg/dia durante 5 dias, com melhoria clínica significativa. Sem défices neurológicos à data da alta hospitalar.
Conclusões: A ataxia cerebelosa é uma entidade pouco frequente na infância que obriga a investigar causas infecciosas e não infecciosas. O envolvimento neurológico da infecção por SARS-CoV-2 pode ocorrer por mecanismo neuroinvasivo directo, como também por mecanismo neuroinflamatório após uma resposta de citoquinas exagerada, com resposta imunomediada e lesão da barreira hematoencefálica levando a desregulação imunológica pós-infecciosa.

Palavras Chave: (ataxia cerebelosa, infeção por SARS-CoV-2)