1 - Unidade de Genética Médica, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal;
2 - Centro de Diagnóstico Pré-Natal, Maternidade Alfredo da Costa, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal;
3 - Serviço de Neurorradiologia, Hospital Garcia de Orta, Almada, Portugal;
4 - Serviço de Neuropediatria, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal;
5 - Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Genética, Departamento de Genética, INSA - Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Porto, Portugal;
6 - CGPP - Centro de Genética Preditiva e Preventiva, IBMC - Instituto de Biologia Molecular e Celular, Universidade do Porto, Porto, Portugal;
7 - I3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto, Porto, Portugal
- Reunião nacional - Reunião Científica da Associação Portuguesa de Diagnóstico Pré-Natal 2021, publicação sob a forma de resumo, comunicação em poste
Introdução: O diagnóstico e aconselhamento pré-natal das doenças mitocondriais (DM) é um desafio. O vasto espectro fenotípico e genotípico, o facto de poderem ser causadas por variantes quer no DNA nuclear (nDNA) quer no mitocondrial (mtDNA), e a especificidade de tecido das variantes do mtDNA contribuem para a complexidade deste grupo de doenças.
Caso clínico: Grávida referenciada ao Centro de DPN por rastreio combinado do 1.º trimestre de alto risco (translucência da nuca 6,6 mm). Biópsia das vilosidades coriónicas para pesquisa de aneuploidias inconclusiva para T13, e microarray com perfil normal para o sexo feminino. Ecografia morfológica às 24 semanas com quistos conatais bilaterais e corpo caloso diminuído e dismórfico. Ressonância magnética fetal às 27 semanas identificou destruição quística da matriz germinal e dos gânglios da base, atraso da sulcação e giração, e hipossinal T1/T2 hepático, compatível com DM. Dado o mau prognóstico fetal, o casal optou pela interrupção médica da gravidez. A investigação post‑mortem com estudo da cadeia respiratória e do número de cópias do mtDNA em biópsia hepática não foi conclusiva. O WES identificou uma variante no mtDNA, MT‑ATP6 m.9134A>T, em aparente homoplasmia. Não foi detetada a variante em sangue periférico da progenitora, pelo que se assumiu a origem de novo, com risco de recorrência baixo. Disponibilizado DPN ecográfico e molecular em gestação subsequente, não tendo sido identificadas malformações nem a variante familiar.
Conclusão: Aqui, reportamos uma nova variante no gene MT-ATP6 associada a encefalo-hepatopatia de apresentação pré-natal, contribuindo para a expansão do seu espetro fenotípico e genotípico. O WES com amplificação adicional de mtDNA foi fundamental para o diagnóstico molecular neste caso, sendo proposto atualmente como estudo de 1.ª linha nas DM. Adicionalmente, salientamos a importância da avaliação e aconselhamento integrados em equipas multidisciplinares constituídas por especialistas em medicina fetal, neurorradiologistas, neuropediatras, e geneticistas clínicos e laboratoriais.
Palavras Chave: Doenças mitocondriais, gene MT-ATP6, WES