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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÉMICO NO CONTEXTO DE VASCULITE PRIMÁRIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Sofia Bettencourt1, João Bilardo Caiano2, Teresa Morais1, Inês Madureira3, Joana Martins4, Carla Conceição1, Ana Paiva Nunes5, Rita Lopes Silva6

1 - Serviço de Neurorradiologia, Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
2 - Serviço de Neurologia, Hospital Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
3 - Serviço de Reumatologia, Área de Pediatria, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
4 - Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, Área de Pediatria, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
5 - Unidade Cérebro-Vascular, Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
6 - Serviço de Neuropediatria, Área de Pediatria, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa

- 15º Congresso Sociedade Portuguesa de Neuropediatria, reunião nacional (poster)

Resumo:
Introdução: As arteriopatias não ateroscleróticas, particularmente as vasculites, contribuem para um número considerável dos AVCs isquémicos em idade pediátrica, com aumento do risco de recorrência dos mesmos, se não tratadas.
Caso: Adolescente, 15 anos, com início durante a aula de Educação Física de confusão e hemiparésia direita transitórias. Ao exame objectivo no SU destacava-se afasia mista. RM e angio-RM revelaram restrição à difusão no lenticular e caudado esquerdos, com espessamento regular e concêntrico da artéria carótida interna esquerda (ACIE), condicionando estenose grave do seu segmento terminal, com hipersinal T1 espontâneo da parede vascular - alterações compatíveis com dissecção vs arteriopatia de etiologia inespecífica da ACIE. Foi internada admitindo-se AVC isquémico de etiologia a esclarecer e iniciou anticoagulação terapêutica. Realizou angiografia que demonstrou irregularidade parietal do segmento cervical distal e supra-clinoideu da ACIE com diminuição franca do seu calibre. Por agravamento neurológico repetiu RM com estudo vessel Wall que mostrou novas lesões isquémicas do território da ACIE, oclusão da ACM ipsilateral, espessamento parietal e reforço de sinal concêntrico da ACIE indicativos de processo inflamatório. Iniciou terapêutica empírica com corticoterapia e suspendeu a anticoagulação, pelo risco hemorrágico, tendo iniciado AAS. Excluiu-se etiologia infecciosa e auto-imune sistémica, bem como afecção de outros territórios vasculares e realizou ecodopplers seriados dos vasos do pescoço e transcraniano sem progressão da doença, pelo que se admitiu vasculite primária do SNC de grandes/médios vasos não progressiva. Realizou pulso de imunoglobulina e esquema de desmame mensal da corticoterapia oral, com melhoria progressiva do quadro neurológico, mantendo ainda assim reforço de sinal envolvendo a ACIE.
Conclusão: A vasculite primária do SNC é uma etiologia rara, mas importante, de AVC isquémico em idade pediátrica, cujo prognóstico depende do seu reconhecimento precoce e rápido controlo da resposta inflamatória.

Palavras Chave: AVC, imunoglobulina, corticoterapia, vasculite.