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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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ABORDAGEM DA HEMORRAGIA DO MÚSCULO ILIOPSOAS: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO DE LESÃO SECUNDÁRIA DOS NERVOS FEMORAL E CUTÂNEO FEMORAL LATERAL

Sérgio Pinho1, Margarida Rodrigues2, Mafalda Pires3

1 - Serviço de Medicina Física e de Reabilitação, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa
2 - Serviço de Medicina Física e de Reabilitação, Centro de Reabilitação do Norte, Porto
3 - Serviço de Medicina Física e de Reabilitação, Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa

- Reunião nacional da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação – MFR em tempo de pandemia, Outubro 2021

Introdução: A Hemofilia A (HA) é a coagulopatia hereditária ligada ao X mais comum, sendo as manifestações hemorrágicas músculo-esqueléticas as mais frequentes. A hemorragia do iliopsoas é rara e pode associar-se a morbilidade importante por poder associar-se a compressão nervosa.
Métodos: Apresenta-se um caso clínico acerca desta entidade e a pesquisa bibliográfica realizada.
 Relato de Caso: Adolescente, 14 anos, com HA ligeira. Admitido no SU por dor inguinal esquerda, irradiada ao joelho, de carácter mecânico e agravamento progressivo, em associação a esforço físico realizado um dia antes do início do quadro. A dor não cedia ao repouso ou analgesia. Apresentava empastamento da região inguinal esquerda à palpação, com dor intensa à mobilização passiva da articulação coxofemoral, condicionando força muscular diminuída nos flexores da anca e extensores do joelho e hipostesia da face anterointerna e externa da coxa esquerda. Analiticamente sem alterações. Ecografia e TC com aumento volumétrico do músculo ilíaco e da vertente inferior do psoas. Admitiu-se o diagnóstico de extenso hematoma intramuscular do iliopsoas a condicionar compressão do nervo femoral e cutâneo femoral lateral. Foi administrado FVIII recombinante, tendo ficado internado. Observou-se resposta imagiológica favorável após 24h de tratamento, e melhoria da dor, flexibilidade, força e sensibilidade. Foi instituído um programa de MFR de vigilância neuro-motora e de readaptação funcional musculosquelética. Verificou-se resolução completa do quadro e indicação para realizar descarga e manter seguimento por MFR no ambulatório.
Discussão: Verificou-se uma escassez de publicações científicas, provavelmente devido á raridade desta ocorrência nos dias de hoje. A partilha deste caso torna-se, assim, relevante nesta área de intervenção da MFR. Da informação apurada, verifica-se que a abordagem inicial é conservadora, com recurso ao repouso, reposição em altas doses do fator VIII e um programa de reabilitação individualizado até à reabsorção completa do hematoma. Mesmo existindo compromisso neurológico periférico, a aspiração percutânea ecoguiada do hematoma está indicada apenas nos casos mais graves. Uma resolução incompleta do hematoma aumenta o risco de desenvolvimento de um pseudotumor.
Conclusões: Nos doentes HA, uma coxalgia acompanhada de restrição da amplitude articular e défice sensitivo-motor deve alertar para a possibilidade de um hematoma do músculo iliopsoas. Perante este cenário é necessário um diagnóstico imagiológico célere.

Palavras Chave: iliopsoas; hematoma;  Hemofilia A;