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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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ABCESSO PROSTÁTICO – UMA COMPLICAÇÃO DE IST

Raquel Costa Neves1, Beatriz Vaz1, Maria do Campo Pinto1; Margarida Alcafache1, Catarina Borges1

1 - Unidade de Adolescentes, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

- Reunião Nacional: 10º Congresso Nacional de Medicina do Adolescente

Resumo:
Introdução:  O abcesso prostático (AP) consiste na acumulação focal de pus na próstata, frequentemente, como complicação de uma prostatite. Quando não identificado e corretamente tratado, pode condicionar um elevado grau de morbilidade e mortalidade. Antes da era dos antibióticos, as infeções sexualmente transmissíveis (IST) eram a principal causa etiológica. Atualmente, o AP é uma entidade rara e mais associada a indivíduos imunocomprometidos. O diagnóstico presuntivo é clínico e a ecografia prostática é o exame diagnóstico de primeira linha. O tratamento deve ser dirigido ao agente identificado e, por vezes, é necessária intervenção cirúrgica.
Descrição: Adolescente de 17 anos, sexo masculino, sem antecedentes pessoais relevantes. Cerca de 10 dias antes do internamento, inicia disúria e exsudado purulento uretral. Observado em ambulatório e medicado empiricamente com ciprofloxacina durante 7 dias, que cumpriu. Dois dias antes do internamento, recorre ao serviço de urgência (SU) por manutenção da disúria e oligúria. Sem febre ou outras queixas. Apurado início da vida sexual aos 14 anos e múltiplas parceiras sexuais . Sem alterações relevantes ao exame objetivo. Análise sumária de urina com leucocitúria (10825/uL), tendo alta medicado com cefuroxima. No dia do internamento, regressa ao SU por anúria. Globo vesical palpável e doloroso, adenopatias inguinais infracentimétricas móveis e indolores. Ecografia supra-púbica com AP (2,5x2,5cm) a condicionar desvio contralateral da uretra. Dos exames pedidos na véspera, identificação de Neisseria gonorrhoeae por reação em cadeia de polimerase na urina, urocultura negativa, exame cultural do exsudado uretral negativo. Pesquisa de tóxicos na urina positiva para canabinóides e anfetaminas. Internado para antibioterapia sistémica com ceftriaxone, doxiciclina e metronidazol, que cumpriu durante 7 dias, com evolução clínica e imagiológica favoráveis, sem necessidade de drenagem cirúrgica. Rastreio de outras IST negativo. Referenciado à consulta de Adolescentes com indicação para completar 6 semanas de doxiciclina.
Discussão: Ainda que o AP seja um processo infeccioso raro, deve ser suspeitado em doentes com prostatite e fatores de risco, agravamento clínico ou ausência de resposta à terapêutica instituída. Salienta-se a ausência de protocolos específicos de diagnóstico e tratamento na literatura. A abordagem da sexualidade faz parte da entrevista clínica no adolescente e o rastreio de IST está recomendado em jovens com vida sexual ativa e fatores de risco.

Palavras Chave: abcesso prostático; adolescente; infeções sexualmente transmissíveis; Neisseria gonorrhoeae.