1 – Serviço de Genética Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, Lisboa, Portugal
2 – Serviço de Neuropediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, Lisboa, Portugal
3 – Unidade de Endocrinologia Pediátrica, Serviço de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, Lisboa, Portugal
- 15º Congresso da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria, evento virtual, 13-14 de Maio. Sob a forma de poster.
Resumo:
Introdução: Vários genes estão implicados nas encefalopatias epiléticas infantis. O gene STXBP1 desempenha uma função crítica na sinaptogénese e, mutações de novo em heterozigotia, estão associadas a encefalopatia de aparecimento precoce, perturbação do neurodesenvolvimento e, mais raramente, perturbação do movimento. Há variabilidade fenotípica, podendo ocorrer alteração do fenótipo com o crescimento, sendo que as manifestações clínicas surgem no período neonatal e infância e são habitualmente refratárias ao tratamento.
Caso clínico: Descreve-se o caso de L.M., atualmente com 9 anos referenciada à consulta de genética médica aos 7 anos, por epilepsia refratária. Primeira filha de casal não consanguíneo, com gravidez e período neonatal sem intercorrências, antecedentes de puberdade precoce e história familiar de Doença de Parkinson. O primeiro episódio ocorreu com 1 ano e manifestou-se através de crises de ausência atípicas. Aos 2 anos apresentou crises mioclónicas durante o sono. Desde os 6 anos apresenta crises de ausência atípicas e tónicas, frequentemente de predomínio noturno e, por vezes, em clusters. À observação clínica apresentava apenas agitação motora. Do estudo etiológico, destaca-se RMN-CE com alterações ao nível parieto‐temporal esquerdo, com desdiferenciação e girus fusiforme anormal à direita; e EEG com a maioria das crises com ponto de partida temporal direito. Na nossa consulta foi pedido neuroexoma que identificou a variante patogénica c.1651C>T (p.(Arg51Cys)), em heterozigotia, no gene STXBP1, responsável por encefalopatia epilética de início precoce tipo 4 (OMIM #612164). Estão em curso estudos dos progenitores. Foi realizada cirurgia de epilepsia refratária após investigação intracraniana por stereo-EEG, mas sem aparente diminuição da frequência das crises. Atualmente sob dieta cetogénica e terapia antiepiléptica (levetiracetam, carbamazepina e perampanel), com melhoria clínica.
Conclusão: Este caso ilustra a importância do diagnóstico molecular nas encefalopatias epiléticas refratárias, com o qual é possível estabelecer o prognóstico, acompanhamento e aconselhamento genético apropriado ao doente e à sua família.
Palavras Chave: encefalopatia epilética refratária, gene STXBP1