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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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TESTES GENÉTICOS NA PRÁTICA CLÍNICA

João Parente Freixo1, Rui Gonçalves1

1 - Serviço de Genética Médica, Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa

- Testes genéticos na prática clínica (Capítulo 2) do Livro Branco das Doenças Raras e dos Medicamentos Órfãos em Portugal, Edição: P-Bio - Associação Portuguesa de Bioindústrias (2020). Sob a forma de publicação integral 

Resumo: Por definição, doenças raras são aquelas com uma incidência inferior a 1 em cada 2000 indivíduos da população geral. De acordo com a base de dados Online Mendelian Inheritance in Man (OMIM) estima-se, à data, que existam cerca de 8 mil doenças raras, das quais cerca de 80% terão uma etiologia genética. À volta de 2/3 das doenças raras descritas manifestam-se em idade pediátrica, correspondendo muitas delas a patologias complexas, multissistémicas e com amplo espectro de gravidade clínica. Coletivamente, este grupo de doenças é responsável por 35% das mortes no 1º ano de vida em países desenvolvidos e por uma significativa fração (~30%) das causas de admissão hospitalar pediátrica. Assim, com a crescente capacidade para controlar as doenças infecciosas e as associadas a carências nutricionais, este grupo de patologias, apesar de raras, representa no seu conjunto uma das maiores, senão já a maior, causa de morbilidade e mortalidade infantil nos países desenvolvidos. A identificação da alteração molecular exata (genótipo) responsável pelas características clínicas de uma determinada doença (fenótipo), independentemente da sua maior ou menor prevalência na população geral, é considerada a trave mestra da medicina individualizada e de precisão. A medicina de precisão é reputada como a forma mais adequada e segura de se fazer prática clínica e tem sido com esse foco que a comunidade médica e científica tem vindo a desenvolver as suas ferramentas de diagnóstico e tratamento. Para uma criança com uma doença genética rara, um diagnóstico genético robusto permite o acesso a informação médica na literatura especializada, proporcionando recomendações mais sólidas para os cuidados de seguimento e tratamento mais adequados, para além de possibilitar o acesso a grupos de suporte dirigidos, tais como as associações de doentes, reduzindo o isolamento social a que muitas destas famílias ficam sujeitas. Um diagnóstico genético definitivo permite ainda uma determinação precisa do risco de recorrência familiar e para a descendência, proporcionando um planeamento familiar individualizado e o acesso às opções e técnicas reprodutivas disponíveis. No entanto, alcançar um diagnóstico genético pode ser muito desafiante. A complexidade da organização e de expressão fisiológica do genoma humano constituem ainda, segredos bem guardados.

Palavras Chave: diagnóstico genético, doença genética rara, medicina de precisão