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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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SÍNDROME TORÁCICO AGUDO E INFEÇÃO POR SARS-COV-2

Jorge Rodrigues1, Tiago Milheiro Silva1, Ana Margarida Garcia1, Eugénia Soares2, Maria João Brito1

1 - Unidade de Infeciologia Pediátrica, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central EPE, Lisboa
2 - Centro Tecnológico e Biomédico, Radiodiagnóstico, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central EPE, Lisboa

- Reunião nacional. Submetido para publicação na Portuguese Journal of Pediatrics.

Resumo:
Introdução: O síndrome torácico agudo (STA) é uma complicação frequente da anemia de células falciformes (ACF), com importante morbimortalidade associada. A etiologia é multifatorial e as infeções são frequentemente implicadas. Embora ainda pouco descrito, o SARS-CoV-2 pode associar-se ao STA.
Caso clínico: Adolescente de 15 anos com ACF e crises vaso-oclusivas recorrentes em programa de exsanguinotransfusões, internado por toracalgia, anosmia e ageusia com 12h de evolução, sem febre ou tosse. Sem contexto epidemiológico relevante. Pálido à admissão, com taquipneia, tiragem intercostal e esplenomegalia moderada. Análises com hemoglobina 6.8 g/dL, 9.5% reticulócitos, leucócitos 8310/uL, VS 69 mm/h, PCR 132.7 mg/L e PCT 0.19 ng/ml. Realizou transfusão de concentrado eritrocitário e iniciou cefotaxima e clindamicina. Por PCR SARS-CoV-2 positiva, associou-se hidroxicloroquina. Radiografia de tórax exibia infiltrado intersticial bilateral e cardiomegalia. TC tórax revelou presença de condensações em ambos os lobos inferiores com atelectasia e broncograma aéreo, associadas a focos de densidade em vidro despolido, bem como derrame pleural bilateral e derrame pericárdico. Os achados foram classificados como indeterminados para COVID-19, sugerindo diagnóstico alternativo dado contexto. Otimizou-se analgesia com morfina, cetamina, paracetamol e cetorolac, oxigenoterapia e normohidratação. Evolução favorável com alta após 14 dias de antibioterapia.
Conclusões: A ACF é um fator de mau prognóstico na COVID-19. A clínica das duas entidades pode sobrepor-se e as dificuldades no diagnóstico podem ser ultrapassadas com recurso a exame de imagem. Neste caso, a TC foi fundamental na abordagem do doente, contribuindo para o diagnóstico e permitindo melhor orientação terapêutica.

Palavras Chave: anemia falciforme, COVID-19, pneumonia, síndrome torácico agudo