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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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REACÇÃO INTRAOPERATÓRIA – UM SUSPEITO INCOMUM

Ana Palhinha1

1 - Serviço de Imunoalergologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;

XVI Jornadas de Alergologia de Lisboa, 31 de Janeiro a 01 de Fevereiro de 2020, Lisboa, comunicação oral

Resumo:
INTRODUÇÃO:  As reacções de hipersensibilidade (RH) no perioperatório são, na sua grande maioria, reacções imediatas, pelo que a sua investigação deve incluir testes cutâneos por picada (TCP) e intradérmicos (TID) com os fármacos usados. No entanto, o gold standard na investigação de RH a fármacos é a prova de provocação (PP), que deve sempre ser ponderada de acordo com o risco/benefício. A ranitidina é um antagonista dos receptores H2, sendo usada para prevenção de úlcera péptica no perioperatório. As RH a este fármaco são raras, e quando ocorrem são geralmente ligeiras a moderadas.
CASO CLÍNICO: Doente de 28 anos, género feminino, sem antecedentes pessoais de relevo, enviada a partir da consulta de Anestesia à consulta de Imunoalergologia (IAL), por suspeita de recação alérgica perioperatória. Durante o intraoperatório de cesariana foram administradas, de forma consecutiva, ranitidina (50mg) e cefazolina (2g). Imediatamente após a administração do último fármaco, a doente inicou um quadro de exantema maculo-papular da face, que começou a generalizar para o pescoço e tronco, sendo referido sensação de ardor e prurido; sem sintomas respiratórios, gastrointestinais ou alterações hemodinâmicas registadas. Imediatamente foram administrados 200mg de hidrocortisona e 2mg de clemastina endovenosos, com resolução total dos sintomas ainda antes do final da intervenção cirúrgica. Posteriormente a doente não fez qualquer outra medicação e previamente tolerava beta-lactâmicos. A alergia ao látex foi excluída pela história clínica, uma vez que a doente já tinha contactado com o mesmo, posteriormente à reacção. Na consulta de IAL, procedeu-se à investigação de alergia a cefalosporinas através de TCP, TID e PP que foram negativos. Realizou então TCP com ranitidina 20mg/ml que foram negativos, procedendo-se à realização de TID com o mesmo, nas diluições de 1/100 e 1/10, tendo sido positivo nesta última concentração. A doente recusou fazer prova de provocação oral com ranitidina ou um alternativo, por não necessitar dessa terapêutica.
DISCUSSÃO: A presença de TID positivos para a ranitidina e a relação temporal entre a toma e o aparecimento de sintomas, sugerem a presença de RH ao fármaco. No entanto, a concentração de ranitidina para testes não está validada, e a RH a este fármaco só poderia ser confirmada por prova de provocação. De acordo com os casos descritos na literatura, desconhece-se a probabilidade de reactividade cruzada dentro desta classe de fármacos, pelo que a tolerância a outros anti-H2 também implica avaliação por TC e PP.

Palavras Chave: alergia, colírios, hipersensibilidade