1 - Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Dona Estefânia/Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Portugal
2 - Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, Portugal
3 - Serviço de Imunoalergologia, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Portugal
4 - Unidade de Gastroenterologia, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Portugal
- 67º Congresso Nacional da SPORL- XVIII Congresso Luso-Espanhol de ORL; sob a forma de comunicação oral
Resumo:
Introdução: A esofagite eosinofílica (EoE) é uma doença esofágica imunomediada, caracterizada por sintomas de disfunção esofágica e histologicamente por inflamação predominantemente eosinofílica. Os doentes com EoE apresentam muitas vezes tosse crónica, disfonia, pigarreio e outros sintomas relacionados com a via área, rinossinusite crónica, distúrbios do sono e disfunção tubária. Apesar de existirem estudos que abordam o papel da ORL na abordagem dos doentes com EoE, atualmente na literatura não existem estudos transversais e observacionais de crianças com EoE no que respeita às suas manifestações ORL.
Objetivo: Caracterizar uma população de crianças com diagnóstico de EoE, com ênfase na sintomatologia e exame objetivo ORL, bem como nos seus antecedentes.
Material e Métodos: Estudo transversal exploratório de uma população de crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 17 anos, com diagnóstico de EoE até janeiro de 2019. Foi aplicado um protocolo de observação clínica, elaborado em conjunto com os serviços de Imunoalergologia e Gastrenterologia Pediátrica. Foram realizados questionários aos pais/cuidadores e crianças relativos a sintomas/sinais de rinite alérgica e a sintomas/sinais recentes de esofagite eosinofílica. O estudo obteve a aprovação da Comissão de Ética e exigiu o consentimento informado assinado por parte dos pais/cuidadores.
Resultados: Foram incluídas neste estudo 15 crianças. Destas, 73,3% eram do género masculino e a média de idades era de 13,3 ± 3,2 anos. A maioria (93,3%) apresentava sintomas nasais, 80% tinham queixas faringolaríngeas e 40% apresentavam queixas otológicas. O pigarreio ocorria em 40% das crianças, tosse crónica em 26,7% e disfonia em 13,3%. Em 40% dos casos estes sintomas coexistiam com os sintomas nasais. A maioria (66,7%) realizou nasofaringolaringoscopia flexível, sendo que os achados mais frequentes incluíam desvio de septo nasal (66,7%), rinorreia (60%) e hipertrofia dos cornetos inferiores (40%); enquanto 26,7% tinham sinais indiretos de refluxo faringolaríngeo. Antes de serem incluídas no estudo, 40% das crianças já tinham sido observadas pela ORL, sendo que 26,7% tinham sido já submetidas a cirurgia ORL. A grande maioria das crianças apresentava outras comorbilidades, sendo as mais comuns relacionadas com atopia (66,7%), como rinite/rinoconjuntivite alérgica (53,3%) e asma (46,7%).
Conclusões: A abordagem diagnóstica e terapêutica das crianças com EE deve ser multidisciplinar. O papel da ORL poderá ser considerar o diagnóstico numa primeira fase, tratar manifestações do foro ORL associadas e identificar doentes com atopia e refluxo faringolaríngeo que podem merecer acompanhamento por outras especialidades.