1 - Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
- XVI Jornadas de Alergologia de Lisboa; Reunião Nacional; Apresentado sob a forma de comunicação
Resumo:
Introdução: A sensibilização a lipid transfer protein (LTP) é uma causa frequente de alergia alimentar nos países Mediterrânicos. Os alimentos mais envolvidos são os frutos da família Rosaceae e os frutos de casca rija. No entanto, os padrões de sensibilização e de reactividade clínica são bastante diversos. Apresentamos um caso clínico sugestivo de síndrome LTP com um padrão de sensibilização menos comum na nossa experiência clínica.
Relato do caso: Homem, 32 anos, com antecedentes pessoais de rinite alérgica, polissensibilizado a ácaros do pó doméstico, pólens e epitélio de animais domésticos, foi referenciado à consulta de Imuno-Alergologia por suspeita de alergia alimentar. Desde os 20 anos com episódios recorrentes de edema labial com prurido, os quais começou a relacionar com a ingestão de alimentos com frutos secos na sua composição. Aos 30 anos refere erupção urticariforme generalizada, pruriginosa, associada a edema palpebral e labial, sensação de obstrução respiratória superior com dispneia e vómito alimentar, cerca de 30 minutos após ingestão de refeição asiática, cuja constituição não recorda. Meses mais tarde, novo episódio de edema labial, pruriginoso, após ingestão de kebab. Aos 31 anos, pouco tempo antes da primeira consulta, refere novo episódio de erupção cutânea urticariforme generalizada, pruriginosa, com edema facial e sensação de obstrução respiratória superior após refeição com alface, tomate, arroz branco e carne de vaca.
Na primeira consulta foram realizados testes cutâneos por picada com extracto comercial com positividade para ácaros, vários pólens e epitélio de gato; LTP, amendoim, avelã, noz, sementes de girassol, sementes de sésamo; negativo para tomate e profilina. Deste modo, foi assumido tratar-se de um síndrome de LTP a frutos secos. No entanto, dada ausência de explicação para última reacção referida, foi agendada nova avaliação com realização de testes cutâneos prick-prick com os alimentos envolvidos, os quais foram positivos para alface e tomate (casca e polpa). Tolera a ingestão de caju, pistachio, arroz, carne de vaca. Em todos os episódios nega a prática de exercício físico ou a toma de fármacos. Foi assim considerado como diagnóstico o síndrome LTP e dada indicação para evicção dos alimentos implicados e fornecido plano escrito de emergência. Posteriormente, refere novo episódio de erupção cutânea urticariforme generalizada, pruriginosa, após ingestão inadvertida de alface; refere também vários episódios de edema labial, com prurido após ingestão de tomate os quais conseguiu reverter.
Conclusão: A alface é um dos alimentos que pode estar envolvida no síndrome de LTP. Apenas dois alergénios foram descritos na alergia à alface, uma profilina e uma LTP (Lac s 1). A hipersensibilidade a alface é muitas vezes acompanhada de reacção ao pêssego, ausente neste caso. Dado o perfil de sensibilização descrito, com reacções sistémicas e ausência de sensibilização a profilina, é provável tratar-se de um caso de síndrome de LTP, com sensibilização previsível às LTP’s da alface (Lac s 1), do tomate (Sola l 3 / 6), das sementes de girassol (Hel a 3), do amendoim (Ara h 9), da amêndoa (Pra du 3), da avelã (Cor a 8) e da noz (Jug r 3).