1 - Especialidade de Pedopsiquiatria, Hospital Garcia da Orta, Almada
2 - Especialidade de Pedopsiquiatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
3 - Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
- Artigo publicado na revista “Perspectives in Infant Mental Health: the voices of Covid-19” da WAIMH
Introdução: A doença COVID-19 foi declarada pela OMS como pandemia internacional, no dia 11 de março de 2020. Neste seguimento, várias medidas foram adotadas para conter a transmissão da doença, surgindo orientações dirigidas a alguns grupos específicos, como é o caso das grávidas e puérperas. Se em condições normais, a gravidez constitui um momento de mudança, com relevante impacto emocional, implicando uma elevada adaptabilidade, a situação pandémica atual poderá condicionar uma gestão emocional acrescida. Sabe-se que cerca de 10 a 15% das mulheres desenvolvem perturbações depressivas e ansiosas durante a gravidez, havendo uma elevada probabilidade de persistirem após o parto caso não sejam prontamente diagnosticadas e tratadas. Estes quadros estão também associados a complicações obstétricas e a dificuldades ao nível do desenvolvimento infantil e na relação pais/filhos. Neste sentido, a sua deteção precoce e intervenção têm um impacto positivo no desenvolvimento da criança.
Objetivos e Métodos:O presente estudo pretende determinar qual o impacto da pandemia na saúde mental das mulheres grávidas. Para o efeito, foi realizado um questionário online (o qual incluí questões para caracterização sociodemográfica; antecedentes médicos e psiquiátricos; questões relativas às preocupações relacionadas com a COVID 19 e a aplicação de duas escalas internacionais para a avaliação de sintomatologia depressiva e ansiosa – a Edinburgh Pos-Natal Depression Scale (EPDS) e a Depression, Anxiety and Stress Scale (DASS-21).
Resultados: De uma amostra final de 1698 grávidas, verificou-se que 26% apresentavam sintomas de depressão, 45% sintomas de ansiedade e 38% sintomas de stress. Verificaram-se diferenças regionais na prevalência destes sintomas, com prevalências superiores nas regiões do Alentejo, Algarve e Ilhas. Segundo os dados analisados, 86.4% do total da amostra refere que a situação de pandemia se encontra diretamente relacionada com a sensação subjetiva de maior ansiedade/preocupação com a gravidez atual. 80% considera que a situação atual de pandemia teve um impacto negativo na vigilância da sua gravidez. Receios intensos relacionados com as medidas implementadas para contenção da infeção propostas pela DGS estavam presentes em mais de 90% da amostra.
Conclusão: Os resultados deste estudo sugerem que neste período pandémico houve um aumento significativo na prevalência de sintomatologia depressiva e ansiosa ao longo da gravidez. Neste sentido, alerta para o impacto negativo da pandemia (e das medidas inicialmente implementadas com vista à contenção da infeção neste grupo) na saúde mental das grávidas. Assim, reforça a importância dos clínicos rastrearem estes sintomas e mobilizarem uma intervenção atempada dos mesmos. Sabe-se que a implementação de recursos de saúde mental especialmente dedicados à gravidez e primeiros anos de vida contribuem para um melhor desenvolvimento da criança, com impacto em todo o ciclo de vida do individuo.
Palavras Chave: Covid19, Gravidez, Primeira infância, Saúde mental