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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS EM CRIANÇA COM FENÓTIPO SCID-LIKE E HIPOTONIA. QUAL O DEFEITO GENÁTICO SUBJACENTE?

Joana Faustino1, Inês Martins1, Conceição Neves1, Ana Cordeiro1, João Farela Neves1, Nuno Miranda

1 - Unidade de Imunodeficiências, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
2 - Serviço de Transplantação de Progenitores Hematopoiéticos, IPO Lisboa

IX Reunião do Grupo Português de Imunodeficiências Primárias, reunião nacional, apresentado sob a forma de poster

Introdução: As imunodeficiências combinadas graves (SCID) são um conjunto patologias, com vários genes associados, que se caracterizam pela ausência ou disfunção dos linfócitos T e B. O único tratamento curativo é o transplante de células progenitoras hematopoiéticas (TCPH). Sem tratamento adequado, as crianças falecem por complicações infeciosas antes dos 2 anos de vida.
Caso Clínico: Lactente de 4 meses do sexo feminino, filha de um casal não consanguíneo, com antecedentes familiares irrelevantes. Apresentava como antecedentes vários episódios de infeções respiratórias desde os 2 meses, nomeadamente, 4 internamentos por dificuldade respiratória, hipoxémia e intolerância oral, que condicionaram uma má progressão estaturo-ponderal. Aos 5 meses, é internada por pneumonia intersticial hipoxemiante, sendo isolado Pneumocystis jiroveci nas secreções, ao exame objectivo destacava-se hipotonia ligeira. Analiticamente apresentava pan-hipogamaglobulinémia, linfopenia global (CD3+ 149-453 células/μL, linfócitos CD4+ 118-362 células/μL, CD8+ 16-68 células/μL, CD19+ 43-92 células/μL, CD56+/CD16+ 187-206 células/μL, com normal presença relativa de células naive e proliferações ausentes a PHA, PMA, tétano e PPD. Ácido úrico e doseamentos de ADA e PNP normais. Iniciou terapêutica com cotrimoxazol, profilaxias e imunoglobulina substitutiva, com boa evolução. Painel de NGS para SCID não revelou variantes potencialmente causais. Aos 10 meses foi submetida a transplante de células progenitoras hematopoiéticas de um dador não relacionado 9/10 após condicionamento com Busulfano (com monitorização da cinética), fludarabina e ATG, e profilaxia de doença do enxerto contra o hospedeiro com tacrolimus e micofenolato de mofetil. Encontra-se atualmente no 19º mês pós TCPH, teve como principais intercorrências doença de enxerto versus hospedeiro intestinal, cutânea. Apresentou também quadro de trombocitopenia e anemia hemolítica graves, com necessidade de terapêutica imunossupressora prolongada (corticoide, micofenolato mofetil e rituximab). Apesar disso, mantém excelente quimerismo linfoide, com reconstituição imunológica T e resolução da susceptibilidade infecciosa. Ao exame físico apresenta sinais de displasia ectodérmica, levantando a hipótese de poder tratar-se de um defeito dos canais de cálcio, estando sequenciação exómica em curso.
Conclusão: O reconhecimento precoce dos SCID ou SCID-like permite instituir medidas profiláticas e terapêuticas que melhoram o prognóstico destas crianças. A elevada mortalidade assenta na maioria dos casos num atraso diagnóstico e numa elevada demora entre o diagnóstico e o TCPH, pelo que é crucial que seja introduzido o rastreio neonatal universal destas doenças.

Palavras Chave: síndrome de imunodeficiência severa combinada, células T, células B, transplante hematopoiético, ORAI1, displasia ectodérmica