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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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SINTOMAS PSICÓTICOS NA INFÂNCIA: UM DESAFIO

Rita Amaro1, Sofia Vaz Pinto1, Cláudia Cano1, Carolina Sereijo2, Juan Sanchez3

1- Médico Interno de Formação Específica da Especialidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa.
2- Médico Interno de Formação Específica da Especialidade de Psiquiatria, Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa.
3- Assistente Hospitalar Graduado da Especialidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa.

- Reunião nacional: apresentado sob a forma de póster no 5º Encontro do 1º Episódio Psicótico, Lisboa.

Introdução: A deteção precoce de psicoses emergentes tem sido um dos principais objetivos da investigação em psiquiatria nas últimas duas décadas. Cerca de 70% das esquizofrenias emergem de forma lenta num período de 4-5 anos, inicialmente com sintomas prodrómicos inespecíficos e posteriormente com sintomas sublimiares mais específicos – sintomas psicóticos atenuados ou sintomas psicóticos breves e auto-limitados. As perturbações psicóticas têm interesse crescente devido ao facto de se situarem as fases mais precoces da doença na infância e adolescência – períodos de risco e prodrómicos, com implicações relevantes na intervenção preventiva.
Objetivos: Refletir acerca dos desafios no diagnóstico das Perturbações Psicóticas na infância a partir de um caso clínico da consulta de Pedopsiquiatria.
Relato de Caso: Criança de 5 anos, sexo masculino, encaminhado por grande dificuldade na execução das tarefas, dificuldade na aprendizagem e sem interesse pelo que a rodeia. Isolamento social, com dificuldade na separação. Desorganização do comportamento, com bizarrias. Falta de coerência do discurso e conversas de tonalidade “mórbida” sobre a morte. Episódio em que há suspeita de alteração da perceção visual e eventuais alucinações auditivo-verbais acerca de fazer mal à família e amigos da escola. Tónica persecutória no discurso e medos verbalizados. São referidos rituais e dificuldade em alterar a sua rotina. Comportamentos regressivos e infantilizados - bebe biberon à noite, usa fralda, dorme com a mãe. Enurese noturna. À observação, no jogo simbólico temática de aniquilamento, explosão, morte, com tonalidade agressiva. Alteração da forma e do conteúdo do pensamento com dificuldade no encadeamento das ideias, bizarrias e ideias delirantes de conteúdo paranoide. Risos imotivados. Foi medicado com Risperidona e proposta continuação de seguimento em Pedopsiquiatria, semanal, e realização de psicoterapia. Melhoria franca da sintomatologia, com remissão do Quadro. Foram trabalhadas estratégias de individuação e promoção de autonomia.
Conclusões: Nos sintomas psicóticos numa criança é essencial distinguir com acuidade alucinações e delírios de outras formas de pensamento como produções imaginativas, sintomas ansiosos e obsessivos que podem ocorrer numa criança normal em determinadas circunstâncias. Sendo difícil valorizar com fiabilidade sintomas psicóticos abaixo da idade dos sete anos, torna-se um desafio acrescido para a prática clínica.

Palavras Chave: Esquizofrenia, Infância, Psicose, Sintomas Psicóticos