1- Unidade de Infecciologia, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
2- Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, Lisboa
- XVI Jornadas Nacionais de Infeciologia da SIP-SPP
Introdução: A doença da arranhadela do gato causada pela bactéria Bartonella henselae, manifesta-se maioritariamente por linfadenopatia regional autolimitada. Num menor número de casos, estão descritos casos com envolvimento ocular, neurológico, músculo-esquelético e visceral também pode ocorrer.
Objetivos: Caracterizar as infeções por Bartonella sp. que requereram hospitalização, num hospital pediátrico terciário.
Métodos: Estudo retrospetivo descritivo dos internamentos por bartolenose entre Janeiro/2010 e Dezembro/2018. Foram analisados dados epidemiológicos, clínicos, laboratoriais e de terapêutica. Estatística: SPSS 22®.
Resultados: Foram incluídos 22 doentes, com mediana de idades de 8 anos (mínimo 12 meses; máximo 17 anos), que em 20 (90%) revelaram ter contacto com gatos. Os diagnósticos foram osteomielite/artrite (8), linfadenite supurativa (6), febre de origem indeterminada/forma hepatoesplénica (4), neurorretinite (2) e encefalite (2). A mediana do tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 1,5 meses (mínimo 15 dias; máximo 2 meses). Em todos os doentes o diagnóstico foi realizado por confirmação da seroconversão de anticorpos contra Bartonella sp. e em quatro casos por deteção molecular e sequenciação (sangue=1, biopsia de gânglio=3). A terapêutica foi realizada de acordo com a clínica: azitromicina na linfadenite supurativa, rifampicina e ciprofloxacina nas formas hepatoesplénicas, rifampicina e doxicilina nas neurorretinites/encefalites e rifampicina associada a doxicilina, ciprofloxacina ou cotrimoxazole na osteomielite/artrite. A infeção pelo VIH e défices de interleucina, investigados em 6 (27%) doentes, não apresentaram alterações. Foram rastreados e tratados por veterinário todos os gatos infetados dos doentes.
Conclusões: Nestas entidades clínicas, em que outras infeções podem estar implicadas, é necessário um alto índice de suspeição, com particular ênfase na história epidemiológica. A associação de formas sistémicas com imunodeficiência não se verificou no nosso estudo. A ausência de recomendações para a terapêutica da infeção atípica, tornam a abordagem destes casos um desafio. São essenciais estudos de controlo randomizados para se definir a melhor abordagem em cada caso.
Palavras Chave: bartonelose; criança; manifestações atípicas