imagem top

2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

CHULC LOGOlogo HDElogo anuario

FUSOBACTERIUM NECROPHORUM: UM AGENTE A CONSIDERAR NO DIAGNÓSTICO DE MENINGITE BACTERIANA

Ana Pereira Lemos1, Tiago Silva1, Herédio Sousa2, Flora Candeias1, Maria João Brito1

1- Unidade de Infecciologia, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
2- Unidade de Otorrinolaringologia, Área de Pediatria Cirúrgica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa

- 16º Encontro Nacional de Atualização em Infeciologia

Introdução: As infeções por Fusobacterium necrophorum, bacilo gram-negativo anaeróbio altamente virulento, são raras, mas potencialmente fatais e cursam com abcessos localizados da orofaringe ou infeções sistémicas graves, como a meningite.
Relato de caso: Criança de três anos, com antecedentes de otites de repetição, recorre por febre, otorreia profusa do ouvido esquerdo, vómitos e prostração. Havia sido medicada com amoxicilina por otite média aguda com melhoria clínica inicial. À admissão apresentava sensação de doença, taquicardia sem outras alterações hemodinâmicas e sinais meníngeos. Iniciou ceftriaxone e vancomicina. Proteína C reativa 161 mg/L, sem leucocitose ou alterações de coagulação e líquido cefalorraquidiano (LCR) turvo, 13682/uL células (predomínio polimorfonucleares), glicose indetetável e proteínas 404mg/dL. A hemocultura, exame cultural de LCR e do exsudado auricular foram negativos. A TC revelou otomastoidite bilateral e realizou miringotomia com tubos de ventilação transtimpânicos. Em D2, mantinha febre e apresentava LCR com 1596/uL (sem predomínio) proteínas 65,8 mg/dL e glicose 59 mg/dL. A polymerase chain reaction (PCR) de meningococo e pneumococo foram negativas. Em D5 surge com desequilíbrio da marcha, mantendo infeção do ouvido médio e externo. A RM revelou petrosite, labirintite e paquimeningite reacional adjacente. A PCR do gene 16S rRNA no LCR permitiu a identificação de Fusobacterium necrophorum. Manteve ceftriaxone 21 dias com melhoria clínica progressiva. Atualmente apresenta hipoacúsia de transmissão ligeira à direita e mista à esquerda, sem outras sequelas.
Conclusões: Apesar de rara, a doença invasiva por Fusobacterium necrophorum tem vindo a aumentar. Deve ser suspeitada quando existem antecedentes de otites ou infeções do trato respiratório superior recorrentes. Na presença de exames culturais negativos, a PCR de DNA bacteriano das amostras poderá identificar o agente, permitindo ajustar a terapêutica e melhorar o prognóstico.

Palavras Chave: Fusobacterium necrophorum; meningite bacteriana; PCR de DNA bacteriano