1 Unidade de Infeciologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. CHULC
2 Serviço de Cardiologia Pediátrica, Hospital de Santa Marta, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. CHULC
3 Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. CHULC
- 11th Excellence in Pediatrics Conference, Copenhaga, 5 a 7 de dezembro de 2019, publicação sob forma de poster com discussão.
Introdução: O aumento da utilização de técnicas invasivas no tratamento de recém-nascidos (RN) tem contribuído para a incidência crescente de endocardite. As manifestações clínicas têm uma apresentação variável e inespecífica indistinguível, mesmo sem fatores de risco identificados, como patologia cardíaca estrutural.
Descrição do caso: Recém-nascido gémeo internado na UCIN por prematuridade (31 semanas) e dificuldade respiratória sob ventilação mecânica e cateter venoso central. No sétimo dia de vida, iniciou terapêutica empírica com cefotaxima, vancomicina e gentamicina por sépsis com sinais inflamatórios subsequentes nos joelhos bilateralmente, 2º dedo do pé direito e 2º dedo da mão direita. As culturas de sangue e LCR foram positivas para Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA). Em D14, apesar da aparente melhoria osteoarticular, mantinha febre, notado sopro cardíaco sistólico de novo, oscilação da PCR, trombocitopenia grave, microabcessos hepáticos e bacteriémia persistente. Iniciou linezolida com ecocardiograma a mostrar uma grande vegetação séssil aderente ao folheto septal da válvula mitral. A hemocultura foi negativa após as primeiras 48h de linezolida, no entanto, a ruptura das cordas tendinosas da valva mitral condicionaram a dilatação das cavidades esquerdas com insuficiência mitral moderada (IM). Começou captopril mas não tolerou por hipotensão. Alta aos 72 dias de vida assintomático sem medicação. Aos 13 meses, evolução favorável, com IM leve, sem dilatação das cavidades esquerdas e sem sequelas osteoarticulares.
Discussão: Embora a endocardite seja um diagnóstico raro no RN, a presença de acesso venoso central, bacteriémia persistente e um sopro de novo, mesmo na ausência de cardiopatia estrutural, deve levantar a suspeita sobre esta entidade. A presença de um foco infecioso, como a osteomielite, não impede a presença de outra doença grave, como a endocardite. A avaliação ecocardiográfica precoce e a extensa investigação direcionada podem evitar complicações graves associadas e reduzir a morbimortalidade.
Palavras-Chave: endocardite, insuficiência mitral, sépsis neonatal