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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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Doença Renal Poliquística – Revisão Teórica e Experiência de 2009 a 2018

Diogo Rodrigues1, Joana Simões1, Catarina Borges1, Telma Francisco1, Marisa Cruz2, Raquel Santos1, Gisela Neto1, Ana Paula Serrão1, Margarida Abranches1

1 - Unidade de Nefrologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, EPE
2 - Serviço de Genética Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, EPE

- Sessão Clínica da Área da Mulher, Criança e Adolescente, Sala de Conferências do HDE, 23 de Abril de 2019 (Comunicação Oral)

Introdução: As doenças renais poliquísticas constituem um grupo de doenças de gravidade variável com eventual evolução para doença renal crónica terminal. Reconhecem-se duas entidades distintas conforme herança genética, morfologia dos quistos, aspetos clínicos, radiológicos e laboratoriais: doença renal poliquística autossómica recessiva (DRPQ-AR) e autossómica dominante (DRPQ-AD). Ambas são doenças sistémicas e apesar de habitualmente o envolvimento renal dominar o quadro clínico poderão coexistir manifestações extra-renais importantes. Nos últimos anos tem existido investigação clínica com utilização da genética molecular no sentido da melhor caracterização da variabilidade fenotípica com consequente melhoria na avaliação diagnóstica e prognóstica destes doentes e suas famílias. A abordagem terapêutica também tem tido avanços com o desenvolvimento de fármacos modificadores da doença.
Resultados: De 2009 a 2018 foram seguidos 57 doentes com DRPQ, 50 com DRPQ – AD (88%) e 7 DRPQ – AR (12%), dos quais 33 ainda se encontram em seguimento no HDE. A idade ao diagnóstico nos casos AR foi mais precoce do que nos casos AD (máximo 2 anos). Em 6 doentes foi feito diagnóstico pré-natal, um terço deles com doença AR. Nenhum dos doentes AR tinha história familiar; dos doentes AD cerca de 60% tinham história familiar de doença poliquística em pelo menos 2 familiares, predominantemente progenitores e avós. Todos os doentes com DRPQ-AR apresentaram pelo menos um marcador de lesão renal (HTA, albuminúria ou diminuição da TFG), sendo esta percentagem de 52% nos doentes com DRPQ-AD. 30% dos doentes têm DRC grau 2-5 e 3 deles encontram-se já em lista para transplante renal (1 DRC grau 5 e 2 DRC grau 4, todos em tratamento conservador). Verificou-se envolvimento extra-renal com quistos hepáticos, hepatomegália, fibrose hepática, colangite e hipertensão portal em 3 a 17% dos doentes. Dos 7 doentes com DRPQ-AR, 5 tinham mutações do gene PKHD1 em homozigotia e 1 em heterozigotia (o outro não realizou estudo genético). O estudo genético foi positivo para mutações no gene PKD1 em 48% e para PKD2 em 6% dos doentes com DRPQ-AD. Em 7% o estudo foi negativo ou inconclusivo. Em duas doentes o quadro clínico de DRPQ-AD enquadrou-se num síndrome de genes contíguos confirmado geneticamente.
Conclusão: A doença renal poliquística tem uma expressão fenotípica variável condicionada também por factores não genéticos; nos casos em que não existe história familiar o estudo genético tem particular importância, embora possa ser necessário incluir novos genes nos painéis. A DRPQ-AR tende a ter manifestações mais graves, incluindo extra-renais e evolução mais precoce para DRC terminal. Relativamente à DRPQ-AD, têm sido descritos novos genes além do PKD1 e 2 e é controversa a necessidade de rastreio em idade pediátrica e seguimento de familiares de doentes no sentido de controlar comorbilidades que possam influenciar o prognóstico.

Palavras Chave: doença renal poliquística, hipertensão arterial, albuminúria