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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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DOENÇA NEUROMUSCULAR EM ESTUDO: CORRELAÇÃO COMPLEXA ENTRE CLÍNICA E GENÉTICA

Teresa Painho1; Pedro Alves2; Ana Soudo3; José Pedro Vieira1; Sandra Jacinto1

1- Serviço de Neurologia Pediátrica, Área da Mulher, Adolescente e Criança, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
2- Serviço de Radiologia, Hospital de São José – Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, EPE, Lisboa
3- Serviço de Medicina Física e de Reabilitação, Hospital Dona Estefânia – Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, EPE, Lisboa

- Apresentação oral na Reunião de Outono da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria – “Casos clínicos de diagnóstico difícil”
- Lisboa, 11 Outubro 2019

Introdução: Os principais padrões de doença neuromuscular, miopatia e neuropatia, classicamente são referidos como clinicamente distintos. O uso de painéis NGS têm facilitado o diagnóstico genético destas doenças e a definir relação fenótipo-genótipo.
Descrição do caso: Criança de 3 anos, sexo masculino, único filho de pais saudáveis, não consanguíneos. Sem antecedentes familiares relevantes. Referenciado por dificuldades na motricidade grosseira: quedas frequentes, incapacidade de passagem da posição de sentado para pé sem apoio e na corrida. Ao exame neurológico (EN) destacava-se diplegia facial e paresia das cinturas (grau 4), sinal de Gowers, marcha com báscula da bacia e arreflexia osteotendinosa. A investigação dirigida ao diagnóstico de miopatia revelou CK normal, EMG com velocidades de condução com amplitude dos potenciais motores no limite inferior do normal. Foi excluída atrofia muscular espinhal. A biópsia muscular não revelou alterações histológicas, contudo detetou-se aumento da atividade da citrato sintetase. Foi alargado estudo metabólico: lactato, aminoácidos, ácidos orgânicos, carnitinas, e doseamento de alfa-glucosidase que não revelou alterações. A RMN evidenciou sinais de miopatia envolvendo sobretudo a cintura pélvica. O painel NGS para miopatias identificou: heterozigotia dos genes DOK7, RYR1, OPA1, CHRND, COL6A2 e GOSR2, que não permitem estabelecer um diagnóstico. O painel de genes nucleares para doenças mitocondriais revelou uma variante patogénica já previamente descrita do gene MFN2, associado a doença de Charcot-Marie-Tooth tipo 2A. Ao longo dos 4 anos de follow-up tem mantido EN sobreponível.
Conclusões: Apesar da arreflexia osteotendinosa, clinicamente o fenótipo do doente enquadra-se sobretudo num perfil miopático, sem estigmas de síndrome miasténico. Perante as variantes genéticas identificadas pretendemos discutir se se trata de uma neuropatia, doença de Charcot-Marie-Tooth tipo 2, com um défice de força de predomínio proximal ou se a variante MFN2 identificada é um “achado” e devemos continuar a investigação de eventual doença muscular, nomeadamente um síndrome miasténico congénito DOK7.

Palavras Chave: Doença neuromuscular; miopatia; neuropatia: painel NGS;