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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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SINTOMAS OBSESSIVOS E PSICOSE – QUAL A RELAÇÃO?

Rita Amaro1, Rita Gameiro2, Juan Sanchez1

1 – Psiquiatria da Infância e Adolescência, Área da Mulher e da Criança, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
2 – Psiquiatria da Infância e Adolescência, Centro Hospitalar Barreiro Montijo

- 4º Encontro Nacional do Primeiro Episódio Psicótico

Resumo:
Introdução: Vários estudos mostram a elevada prevalência de sintomas obsessivo-compulsivos (SOC) em pacientes com patologia psicótica. Pacientes com Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) primária parecem ter um risco aumentado para doença psicótica comórbida. Os SOC parecem ser muitas vezes descritos cedo no decurso da doença psicótica.
Objetivos: Refletir, à luz de três casos clínicos, acerca de relação entre a ocorrência simultânea de sintomas obsessivos e funcionamento psicótico/ psicose. Coloca-se a hipótese: será uma doença pródromo da outra?
Metodologia: Revisão seletiva da literatura no PubMed e B-On com as palavras “Ultra-high-risk Psychosis”, “Obsessive–compulsive”, “Comorbidity”
Resultados: SOC podem fazer parte da sintomatologia inicial antes da psicose se instalar, integrando assim o quadro prodrómico da psicose esquizofrénica. Em Lebovici, pode ler-se que os sintomas obsessivos graves são muitas vezes parte dos sinais de psicose infantil precoce e que, quando no período da latência, podem ter um valor de sintomas psicóticos. Hipotetiza-se que a comorbilidade entre POC e esquizofrenia possa estar relacionada com factores de risco comuns como alterações neuroendócrinas e neuroanatómicas. Neuroticismo aumentado parece estar relacionado com psicose, POC e comorbilidade entre eles. Tem sido estudada ainda a implicação de experiências adversas na infância como fator de risco. A comorbilidade entre POC e pacientes psicóticos parece ocorrer mais frequentemente em sexo masculino e os sintomas psicóticos preliminares ao surto psicótico parecem ser mais prolongados, com início insidioso. A influência dos SOC e sua gravidade no outcome da psicose mantém-se controverso, embora pareçam existir taxas mais elevadas de depressão e suicídio e maior comprometimento do funcionamento psicossocial. Mantém-se controversa a relação com a taxa de conversão para psicose ou taxas de hospitalização.
Conclusão: Parece evidente existir comorbilidade entre SOC e psicose, embora a relação entre estas patologias e a forma como poderão influenciar o outcome se mantenha controversa. A exploração do papel potencial dos SOC pode ter implicações clínicas importantes. É essencial que os clínicos explorem o quadro em crianças ou jovens com sintomas obsessivos pois os sintomas psicóticos podem ser sublimiares e passarem despercebidos, pelo que desta forma se aumenta a atenção clínica com possibilidade de intervenção precoce e diminuição do declínio funcional.

Palavras Chave: Alto-risco de psicose, Psicose, Sintomas obsessivos