Área de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE, Lisboa.
- XXIII Encontro Nacional de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, 16-18 Maio de 2012 (comunicação).
- Artigo submetido a aguardar aprovação para aplicação.
Introdução: Pretende-se, a propósito da apresentação de caso clínico de uma criança de 6 anos com quadro agudo de receio de contaminação – em contexto de possível perturbação obsessivo-compulsiva (POC) emergente –, não só revisitar o diagnóstico de POC na infância, como também levantar questões relacionadas com o lugar do sintoma no quadro contextual.
Caso Clínico: Criança do sexo feminino com 6 anos de idade, internada em Pediatria em Fevereiro de 2011 por quadro de evitamento do toque em objectos/pessoas por acreditar que poderá contaminá-los e ser contaminada, associada a dor abdominal.
Estas preocupações apareceram associadas a movimentos motores repetitivos – sempre a tapar a boca com as mãos "não toca em nenhum sítio porque diz que tudo tem micróbios e que se tocam nela morre" (sic, mãe).
Como possível factor precipitante apura-se episódio de atopia auto-limitada numa amiga próxima (em contexto de alergia alimentar).
Apura-se também um possível factor ansiogénico familiar, um tabu: o pai irá 3 meses para fora de Portugal na tentativa de arranjar emprego.
Discussão: Fazem parte dos sintomas e sinais relatados inicialmente, por um lado, ideias ou pensamentos repetidos acerca de preocupações com a temática da contaminação (o receio de tocar e o receio de ser tocada por temer que daí resultasse doença ou morte), o que parece corresponder a uma obsessão; e por outro lado uma necessidade de ir tapando a boca ciclicamente, como se daí resultasse um alívio ou uma redução do mal-estar, o que parece corresponder a uma compulsão.
A situação aparatosa em agudo coloca o outro perante o mistério, e uma angústia relacionada com o desconhecido e com o que não se controla. Aqui, na análise destes aspectos contra-transferenciais, progressivamente poder-se-á tentar descortinar o lugar vivencial destes sintomas no caso que se apresenta.
A criança existe num contexto familiar, o sintoma ocupa um lugar neste contexto e tem uma função.
Não se nega a complexidade etiopatogénica psicopatológica, mas o alicerce do trabalho terapêutico compreensivo consiste no que é particular a cada caso e numa procura mútua de significados e atribuições sintomáticas.
Palavras-chave: infância, ansiedade, perturbação obsessivo-compulsiva, sintoma.
Keywords: childhood, anxiety, obsessive-compulsive disorder, symptom.