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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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O REFLEXO DOS MAUS-TRATOS NO SONO DE UM LACTENTE

Filipa Marujo1, Diana Amaral1, Paula Silva1, Pedro Caldeira da Silva2, Leonor Sassetti1

1 - Núcleo Hospitalar de Apoio à Criança e Jovem em Risco (NHACJR), Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
2 - Unidade da Primeira Infância, Área de Pedopsiquiatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa

- Primeiras Jornadas do Centro de Estudos do Bebé e da Criança (CEBC)
- 4 de Junho, Fundação Calouste Gulbenkian
- Poster em sala

Resumo:
Introdução: Os maus-tratos em crianças e jovens são um problema de saúde pública a nível mundial. Estudos demonstram a existência de associação entre maus-tratos infantis e perturbações do sono. Os sintomas dissociativos são comumente percebidos como uma resposta protetora a eventos traumáticos que ocorrem na infância.
Caso clínico: Lactente do sexo masculino, internado aos 5 meses por fractura diafisária do fémur direito. A investigação imagiológica revelou formação nodular no sétimo arco costal, alteração morfológica tibial distal e hematoma sub-dural crónico fronto-parietal esquerdos. Aos 27 dias de vida, havia sido internado por equimoses sem história de traumatismo. Sem alterações do metabolismo fosfo-cálcio ou padrão de fractura sugestivo de Osteogénesis Imperfecta. Durante o internamento, os progenitores mostraram-se atentos às necessidades do lactente, mas com comportamentos meramente funcionais e não emocionais. Este mostrava sobressalto fácil e não parecia apresentar reacção ao estranho ou sinais de ansiedade de separação da mãe. Perante a possibilidade de maus-tratos, o caso foi notificado à CPCJ, sendo o lactente e o seu irmão institucionalizados. Após a alta, manteve seguimento na consulta de apoio ao risco pediátrico (CARPE) e aos 8 meses foram notadas alterações no padrão do sono, com despertares nocturnos, gemido e choro sofrido. Na consulta de Pedopsiquiatria, observou-se um bebé pouco apelativo, com olhar difuso e reacção de “congelamento” à aproximação do observador que evoluía para choro forte angustiado. Constatou-se dificuldade na sincronia e sintonia afectiva na interacção pais-bebé. Perante quadro compatível com stress traumático, foi feita intervenção em conjunto com a instituição, sendo notadas melhorias progressivas no sono e comportamento da criança.
Conclusão: Episódios não conhecidos de maus-tratos infantis podem associar-se a sintomas dissociativos e podem ser úteis na prevenção e intervenção dirigidas a crianças vítimas de maus-tratos.

Palavras Chave: maus-tratos, perturbação do sono, sono do lactente