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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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O papel da amigdalectomia lingual no doente com Saos após adenoamigdalectomia

Marisa Rosário1; Marta Mariano1; Ricardo Damaso1; Ivo Moura1; Inês Soares da Cunha1; Herédio Sousa1; Ezequiel Barros1

1 - Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

- Reunião Nacional - Congresso da SPORL - apresentação sob a forma de poster

Resumo:
Introdução: A síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS), caracterizada pelo colapso das vias respiratórias superiores durante o sono, afeta quase 5% da população infantil. O gold-standard para diagnóstico é a polissonografia (PSG). Quando não tratada, pode associar-se a atraso do desenvolvimento psicomotor e doença cardiovascular. Apesar da primeira linha de tratamento para a SAOS pediátrica ser a adenoamigdalectomia (AA), uma percentagem importante de doentes mantém queixas, o que torna pertinente o recurso a medidas diagnósticas e terapêuticas adicionais. A drug-induced sleep endoscopy (DISE) é útil nestes casos, permitindo avaliar a dinâmica da via aérea durante o sono. A hipertrofia das amígdalas linguais é uma das causas anatómicas mais comuns para a SAOS pediátrica persistente, pelo que a amigdalectomia lingual (AL) se revela importante no seu tratamento.
Objectivos: Descrição de caso clínico de adolescente com SAOS após AA. Revisão da literatura recente sobre o tema.
Material e métodos: Apresenta-se um caso clínico de SAOS grave persistente após AA. Realizou-se breve revisão da literatura em língua inglesa no motor de busca PubMed, publicada entre Janeiro de 2015 e Dezembro de 2017. 
Resultados: Doente de 14 anos, sexo masculino, com antecedentes de obesidade e patologia articular do joelho direito. Por roncopatia e suspeita de SAOS, foi submetido a adenoidectomia aos 3 anos e a revisão de AA aos 7 anos, no hospital da área de residência. Por manutenção de sintomas, realizou PSG compatível com SAOS grave e iniciou terapêutica com continuous positive airway pressure (CPAP). Por falta de adesão foi encaminhado ao nosso Centro Hospitalar. Na observação, a destacar exuberante hipertrofia da amígdala lingual – grau LTH4 de Friedman - que impedia a visualização da epiglote. A DISE mostrou obstrução da via aérea nas regiões da base da língua e supraglote. Dada a marcada hipertrofia lingual, optou-se por AL por coblation isolada e, se manutenção das queixas, posterior supraglotoplastia (SGP). O controlo endoscópico pós-cirurgia mostrou redução marcada das amígdalas linguais, com aumento significativo do diâmetro antero-posterior da hipofaringe, sendo possível visualizar a epiglote e região glótica. Contudo, a inspiração forçada condiciona horizontalização da epiglote com colapso parcial para o vestíbulo laríngeo. Após a cirurgia, verificou-se importante melhoria clínica, tendo o doente deixado de necessitar de CPAP. Assim, a indicação para novo tempo cirúrgico com SGP encontra-se deferida.
Conclusões: Este caso ilustra a importância do diagnóstico e tratamento precoces da SAOS, de forma a alterar o prognóstico, permitindo o desenvolvimento adequado e uma melhoria da qualidade de vida. Uma avaliação clínica e estudo etiológico rigorosos e eficazes revelam-se essenciais para a adequação da atitude terapêutica. É fulcral o envolvimento multidisciplinar no diagnóstico e tratamento desta patologia, a fim de oferecer ao doente uma intervenção terapêutica precoce e otimizada.

Palavras Chave: amigdalectomia lingual, DISE, polissonografia, SAOS