Serviço Neurologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E.
- Neuro 2012, Reunião da Sociedade Portuguesa de Neurologia, Porto, 10-12 Mai 2012 (Comunicação oral).
- Revista Sinapse Vol 12, nº1 Maio 2012 (Publicação).
Introdução: As parasómnias, e em particular os terrores nocturnos, são muito prevalentes em idade pré-escolar. Mais frequentes em rapazes, surgem habitualmente nas primeiras horas do sono REM, e caracterizam-se por um estado de agitação de início brusco com choro, gritos desconsolados, em que a criança fica muito assustada, com duração de minutos. Os ataques de pânico isolados são manifestações raras de epilepsia do lobo temporal, mas devem ser tomados em consideração como diagnóstico diferencial de parasómnias.
Caso clínico: Nuno, 10 anos, com antecedentes familiares de epilepsia. Desenvolvimento psicomotor adequado até aos 2 anos, altura em que inicia episódios paroxísticos de pânico, de predomínio nocturno, com agitação motora e choro intensos (caso com vídeo). Concomitantemente, inicia alterações do comportamento, com hiperactividade e impulsividade. O registo EEG interictal detectou escassa actividade paroxística temporal esquerda, e no video-EEG prolongado observou-se actividade paroxística temporal anterior esquerda no início das crises, com muitos artefactos de movimento. A epilepsia evoluiu para fármaco-resistência a múltiplas combinações de anti-epilépticos, atingindo 50 crises por dia. A RM-CE mostrou assimetria dos hipocampos, sugestiva de lesão hipocâmpica esquerda, concordante com os estudos neurofisiológicos. Foi submetido a amigdalo-hipocampectomia e remoção do polo temporal aos 6 anos, com remissão total das crises. O exame anatomo-patológico confirmou tratar-se de uma displasia cortical. As alterações de comportamento melhoraram, mantendo hiperactividade com dificuldades de aprendizagem.
Conclusões: As crises de pânico constituem uma apresentação rara de epilepsia, e como tal ocorre geralmente um grande atraso desde o seu início até ao diagnóstico. O pânico ictal tem sido associado a epilepsia do lobo temporal direito, apesar de um pequeno subgrupo de doentes apresentar foco epiléptico esquerdo. A epilepsia do lobo temporal deve ser excluída em crianças com sintomas de pânico de novo, e a cirurgia rapidamente considerada nos casos refractários.
Keywords: Panic attacks, surgical treatment.