1 - Unidade de Hematologia Pediátrica, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;
2 - Serviço de Ortopedia Pediátrica, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;
3 - Unidade de Infecciologia Pediátrica, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa.
- Reunião Multidisciplinar da Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Resumo: A doença de células falciformes (DCF) associa-se a maior susceptibilidade para infecções, destacando-se as osteoarticulares (IOA). Apresentam-se geralmente sob a forma de osteomielite aguda de ossos longos, sendo Salmonella spp e S. aureus os agentes tradicionalmente encontrados. Contudo, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento de infeções graves, por bactérias multirresistentes (MR). Apresenta-se um estudo retrospectivo de uma população de doentes com DCF internados nos últimos 8 anos, com o diagnóstico de osteoartrite. Foram analisados dados demográficos, clínicos, laboratoriais, imagiológicos, terapêuticos e da evolução considerando-se MR a resistência a 3 ou mais classes de antibióticos. Foram identificados 18 doentes (predomínio do sexo feminino, idade mediana 8,5 anos): 12 com osteomielite aguda, 6 com osteoartrite e 6 com osteomielite crónica; 78% apresentavam sinais inflamatórios locais e 66% febre. Os ossos mais afectados foram: fémur, tíbia, úmero e vértebras existindo envolvimento multifocal em ¼ dos doentes. Foi identificado agente em 8 doentes: S. aureus meticilino-sensivel, Serratia marcescens MR, Enterococcus faecium MR, Enterobacter cloacae MR, Pseudomonas aeruginosa MR e Klebsiella pneumoniae MR. No grupo dos doentes com infecção por bactérias MR verificou-se um predomínio da proveniência de países PALOP, maior período de tempo até ao diagnóstico, maior duração do internamento, maior número de intervenções cirúrgicas e necessidade de terapêutica adicional com O2 hiperbárico. Neste grupo mais doentes evoluíram para a cronicidade e apresentaram sequelas. A emergência de estirpes MR é preocupante a nível mundial, e em particular nos doentes com DCF com IOA. Estas estirpes têm impacto na terapêutica, aumentando as complicações e morbilidade. Não estão definidas linhas de orientação terapêutica e sua duração nos casos MR, sendo necessária implementação criteriosa de protocolos de antibioterapia, referenciação e intervenção precoce para minorar o impacto da IOA neste grupo de doentes.