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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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INFECÇÕES OSTEOARTICULARES POR AGENTES MULTIRRESISTENTES EM CRIANÇAS COM DOENÇA DE CÉLULA FALCIFORMES

Mariana Duarte1, Marisa Inácio Oliveira1, Susana Norte Ramos2, Sara Batalha1, Raquel Maia1, Paula Kjöllerström1, Maria João Brito3, Catarina Gouveia3

1 - Unidade de Hematologia Pediátrica, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;
2 - Serviço de Ortopedia Pediátrica, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;
3 - Unidade de Infecciologia Pediátrica, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa.

Reunião Multidisciplinar da Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

Resumo: A doença de células falciformes (DCF) associa-se a maior susceptibilidade para infecções, destacando-se as osteoarticulares (IOA). Apresentam-se geralmente sob a forma de osteomielite aguda de ossos longos, sendo Salmonella spp e S. aureus os agentes tradicionalmente encontrados. Contudo, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento de infeções graves, por bactérias multirresistentes (MR). Apresenta-se um estudo retrospectivo de uma população de doentes com DCF internados nos últimos 8 anos, com o diagnóstico de osteoartrite. Foram analisados dados demográficos, clínicos, laboratoriais, imagiológicos, terapêuticos e da evolução considerando-se MR a resistência a 3 ou mais classes de antibióticos. Foram identificados 18 doentes (predomínio do sexo feminino, idade mediana 8,5 anos): 12 com osteomielite aguda, 6 com osteoartrite e 6 com osteomielite crónica; 78% apresentavam sinais inflamatórios locais e 66% febre. Os ossos mais afectados foram: fémur, tíbia, úmero e vértebras existindo envolvimento multifocal em ¼ dos doentes. Foi identificado agente em 8 doentes: S. aureus meticilino-sensivel, Serratia marcescens MR, Enterococcus faecium MR, Enterobacter cloacae MR, Pseudomonas aeruginosa MR e Klebsiella pneumoniae MR. No grupo dos doentes com infecção por bactérias MR verificou-se um predomínio da proveniência de países PALOP, maior período de tempo até ao diagnóstico, maior duração do internamento, maior número de intervenções cirúrgicas e necessidade de terapêutica adicional com O2 hiperbárico. Neste grupo mais doentes evoluíram para a cronicidade e apresentaram sequelas. A emergência de estirpes MR é preocupante a nível mundial, e em particular nos doentes com DCF com IOA. Estas estirpes têm impacto na terapêutica, aumentando as complicações e morbilidade. Não estão definidas linhas de orientação terapêutica e sua duração nos casos MR, sendo necessária implementação criteriosa de protocolos de antibioterapia, referenciação e intervenção precoce para minorar o impacto da IOA neste grupo de doentes.