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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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GASTO ENERGÉNITO, UTILIZAÇÃO DOS MACRONUTRIENTES, GANHO PONDERAL E ADIPOSIDADE APÓS CIRURGIA CORRETIVA DE MALFORMAÇÕES GASTROINTESTINAIS: MEDIÇÕES E QUESTÕES

Luis Pereira-da-Silva1,2,3, Susana Barradas4, Ana Cataria Moreira5, Marta Alves3, Daniel Virella1,3, Gonçalo Cordeiro-Ferreira1,2

1 - UCIN, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;
2 - Laboratório de Nutrição, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;
3 - Centro de Investigação, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;
4 - Mestrado em Nutrição Clínica, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa;
5 - Licenciatura de Dietética e Nutrição, Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa.

Divulgação: Reunião Multidisciplinar da Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Introdução: Não há informação suficiente sobre as necessidades nutricionais e a evolução da composição corporal de recém-nascidos após cirurgia corretiva de malformação gastrointestinal. Este estudo explora nesta população a evolução pós-cirúrgica do peso e da adiposidade e relaciona-a com os suprimentos nutricionais, o gasto energético em repouso (GER) e a utilização preferencial dos macronutrientes estimada pelo quociente respiratório (QR). São apresentados resultados intercalares descritivos do estudo em curso.
Métodos: Foram recrutados recém-nascidos internados consecutivamente na UCIN do Hospital Dona Estefânia para cirurgia corretiva de malformação gastrointestinal e sem patologia associada que alterasse significativamente o gasto energético. O peso e os suprimentos diários de energia e de macronutrientes foram medidos diariamente desde o nascimento. O GER e o QR foram medidos bissemanalmente por calorimetria indireta (Deltatrac II®), após passagem a ar ambiente. A adiposidade, definida como percentagem de massa gorda, foi medida semanalmente por pletismografia de deslocação de ar (Pea Pod®), após passagem a ar ambiente e remoção de acesso venoso central. Foram recrutadas crianças com pelo menos uma semana de seguimento.
Resultados: Até data, foram incluídos 28 recém-nascidos, 9 (32%) do sexo feminino, com os diagnósticos de atrésia do esófago (14), gastrosquisis (7), atrésia duodenal (5) e pâncreas anular (2). A mediana (mínimo-máximo) da idade de gestação foi 37 (31-40) semanas e do peso ao nascer 2590 (1515-3420) g. O peso e os suprimentos nutricionais foram medidos entre 31-45 semanas, o GER e o QR entre 34-44 semanas e a adiposidade entre 38-45 semanas de idade corrigida. Foram analisadas 187 medições de calorimetria indireta (28 crianças) e 23 de adiposidade (15 crianças). O suprimento energético foi em média inferior e o proteico superior ao recomendado para crianças saudáveis. O GER foi, em média, superior aos valores de referência até às 38 semanas corrigidas e sobreponível posteriormente. Até às 40 semanas corrigidas, o QR indicou oxidação preferencial de proteínas e lípidos (catabolismo) e, daí em diante, oxidação preferencial de hidratos de carbono (anabolismo). Em média, houve perda de peso até às 35 semanas corrigidas, seguido de recuperação. Esta coincidiu com evolução positiva da adiposidade a qual se mantive inferior aos valores de referência.
Conclusões: Antes das 35 semanas corrigidas observou-se perda de peso com recuperação pelas 38 semanas corrigidas. Até a esta idade, registou-se suprimento de energia inferior e de proteína superior ao recomendado, GER elevado e QR indicador de catabolismo. A partir da idade de termo, o aumento ponderal foi consistente, acompanhado de incremento da adiposidade que nunca alcançou os valores de referência, melhoria progressiva do suprimento energético que não atingiu o recomendado, GER já dentro dos limites normais e QR indicando anabolismo. A continuação do estudo permitirá aumentar a amostra e, eventualmente, confirmar estes achados e proporcionar informação que sugira uma estratégia nutricional para a transição mais precoce do catabolismo para o anabolismo.