Serviço de Imunoalergologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa
Apresentação como convidada na 7ª Reunião de Imunoalergologia de Lisboa, 20 de abril de 2018
Resumo:
São abordadas e discutidas as evidências atuais quanto ao papel da dieta na prevenção e no tratamento da alergia alimentar.
No que diz respeito à prevenção, ao longo da última década tem vindo a constatar-se que a abordagem baseada no atraso da introdução dos alimentos mais alergénicos não parece ter evidenciado um efeito benéfico. Pelo contrário, têm vindo a ser publicados estudos observacionais e, mais recentemente, intervencionais, que sugerem que a introdução precoce de alimentos alergénicos pode ter um papel preventivo da alergia aos mesmos. A evidência é ainda limitada e muitas questões permanecem por resolver mas, pelo menos, parece claro que a introdução alimentar precoce não aumenta o risco de alergia alimentar.
Também em doentes com alergia alimentar não foi encontrada evidência sólida de que uma dieta de evicção rigorosa proporcione uma melhor evolução para a aquisição de tolerância. Nos últimos 10 anos foram publicados estudos sugerindo que, no caso concreto da alergia ao leite e ovo, a introdução destes alimentos cozinhados a alta temperatura, em matriz de trigo, quando tolerada, poderá favorecer a aquisição de tolerância. Não é claro se esta abordagem tem, efetivamente, um efeito tolerogénico ou se se limita apenas a identificar os casos que, à partida, têm melhor prognóstico. No entanto tem a vantagem de permitir uma liberalização da dieta, com todos os benefícios que daí advêm.
Embora haja ainda muitas questões sem resposta, perante as evidências atuais parece sensato iniciar a diversificação alimentar entre os 4 e 6 meses de vida, respeitando os hábitos alimentares da população e evitando o atraso de alimentos potencialmente alergénicos para além dos 12 meses. Nas crianças com alergia alimentar, deve ser mantida a ingestão regular do alimento nas formas toleradas e, se necessário, avaliar a tolerância às formas reconhecidamente menos alergénicas em meio hospitalar.