1. Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa;
2. Serviço de Pediatria Reumatológica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa.
- 60º Congresso da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia
Introdução: A artrite idiopática juvenil (AIJ) é a patologia reumática mais frequente em idade pediátrica. A uveíte é a manifestação extra-articular mais comum, a qual se apresenta tipicamente de forma insidiosa e assintomática, sendo o rastreio oftalmológico preconizado. O objetivo deste estudo é a caracterização da população pediátrica com uveíte associada a AIJ seguida num hospital pediátrico terciário nos últimos 15 anos.
Material e Métodos: Estudo de coorte retrospetivo de doentes com uveíte associada a AIJ. Os doentes foram caracterizados de acordo com o sexo, idade ao diagnóstico de uveíte, subtipo de AIJ, tempo decorrido entre o diagnóstico reumático e uveíte, características clínicas da uveíte, marcadores laboratoriais, melhor acuidade visual corrigida (MAVC), terapêutica, complicações e procedimentos cirúrgicos realizados.
Resultados: Foram incluídos 24 doentes, 13 (54,1%) do sexo feminino, com idade mediana ao diagnóstico de uveíte de 6 anos (3,0-9,25) e intervalo mediano entre o diagnóstico de artrite e a apresentação de uveíte de 1 mês (0-42). Cerca de 57,1% dos doentes apresentaram uveíte prévia ou concomitante ao diagnóstico de AIJ e 80,9% até aos 4 anos de doença. O subtipo oligoarticular de AIJ foi o mais frequente (58,3%). Os anticorpos anti-nucleares eram positivos em 70,8% dos doentes. Verificaram-se complicações oftalmológicas em 12 doentes (50%), 75% dos quais com complicações na primeira avaliação. As sinéquias posteriores (50%; 12/24) e as cataratas (25%; 6/24) foram as mais frequentes. Foram submetidos a cirurgia oftalmológica 5 doentes (20,8%.). Houve necessidade de escalada terapêutica pela uveíte em 87,5% dos doentes. À data da última consulta apenas 6,25% do total de olhos apresentam uma MAVC inferior a 0,3 logMAR. A maior precocidade do diagnóstico de uveíte relativamente ao de AIJ foi a única variável associada significativamente à evolução com complicações (mediana=0; AIQ 13 vs mediana=36; AIQ 64; p=0,034). Atualmente, 29,2% dos doentes estão medicados com metotrexato, 20,8% com metotrexato e adalimumab.
Conclusões: A maioria das uveítes associadas a AIJ ocorreram nos primeiros 4 anos após o diagnóstico reumatológico. Cerca de 50% dos doentes desenvolveram complicações oftalmológicas, cujo risco aumentou quando o diagnóstico de uveíte foi prévio ou concomitante ao diagnóstico de AIJ. Desta forma, salienta-se a importância dos dados obtidos na relevância do rastreio oftalmológico desta população.
Palavras-chave: artrite idiopática juvenil, uveíte