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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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TORÇÃO E INFLAMAÇÃO DE DIVERTÍCULO DE MECKEL: CASO RARO DE ABDÓMEN AGUDO

Sofia Morão, Fátima Alves, Rui Alves, João Pascoal

Cirurgia Pediátrica, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, Lisboa

- Poster apresentado no Congresso Multiprofissional do Hospital Dona Estefânia 140 anos, Lisboa, 28 e 29 de Setembro de 2017

Introdução: O divertículo de Meckel é um resquício embrionário do saco vitelino (onfalomesentérico) que une o intestino fetal à alantóide e que involui entre a 5ª e a 7ª semanas de gestação. Esta estrutura deve o nome a Johann Friedrich Meckel que o descreveu em 1809. Representa a malformação congénita mais comum do intestino delgado, sendo um divertículo verdadeiro do ponto de vista histológico. Tem uma prevalência de cerca de 2% na população em geral, mas só 4% dos indivíduos irão tornar-se sintomáticos. O ratio masculino-feminino é de 2:1, sendo o aparecimento dos sintomas mais frequente até aos 2 anos de idade. O divertículo situa-se a cerca de 60 a 75 cm da válvula ileo-cecal, no bordo anti-mesentérico, e pode apresentar 2 tipos de mucosa ectópica: gástrica e pancreática.
Caso Clínico: Jovem do sexo masculino, 14 anos de idade transferido de outro hospital por suspeita de apendicite aguda. Apresentava dor abdominal com 3 dias de evolução, inicialmente peri-umbilical e depois localizada na fossa ilíaca direita, febre, náuseas, vómitos e diarreia. À palpação abdominal apresentava dor em todos os quadrantes com defesa. Analiticamente, destacava-se leucocitose com neutrofilia e PCR aumentada. Tendo em conta o quadro clínico, foram dispensados outros exames complementares de diagnóstico e foi decidida laparotomia exploradora urgente. Na exploração cirúrgica, foi identificado um volumoso divertículo de Meckel, com torção do seu pedículo, inflamado com uma área gangrenada. Foi realizada enterectomia segmentar contendo o divertículo com anastomose primária e apendicectomia. Sem intercorrências no intra ou no pós-operatório. A análise histopatológica revelou torção de estrutura diverticular 12 x 7 cm, com necrose transmural sem mucosa ectópica identificável.
Conclusão: Apesar de ser uma malformação comum do intestino delgado, o divertículo de Meckel só é sintomático numa pequena percentagem de indivíduos. O caso descrito representa uma forma rara de apresentação: torção e inflamação, sem mucosa ectópica. A presença da área gangrenada sugere que a cirurgia foi feita imediatamente antes de existir perfuração diverticular. Assim, constitui um desafio no diagnóstico diferencial de abdómen agudo pois mimetiza muitas patologias, nomeadamente a apendicite, sendo necessário um alto índice de suspeição para a sua identificação.

Palavras-chave: diverticulite de Meckel; torção; idade pediátrica