1. Serviço de Cirurgia Pediátrica, Hospital de Dona Estefânia (HDE) – Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC)
2. Unidade de Cirurgia Plástica e Queimados, Serviço de Cirurgia Pediátrica, HDE, CHLC
- Comunicação oral apresentada no X Congresso Nacional de Queimados, Lisboa, 26 e 27 de Maio de 2017
Introdução: As queimaduras em idade pediátrica são frequentes. Apesar de existirem poucos estudos epidemiológicos publicados, principalmente nos países europeus, é importante o seu impacto negativo na qualidade de vida da criança/ futuro adulto, tal como o seu impacto a nível sócio-económico. Como um dos principais centros de referência a nível nacional, temos vindo a assistir a um crescendo do número de doentes com menos de um ano de idade, com queimaduras que necessitam de internamento.
Objectivo e métodos: Pesquisa retrospectiva nas bases de dados informáticas (SAM, SClínico e HCIS) de todos os doentes internados num Hospital Pediátrico português por queimadura, com idade igual ou inferior a 12 meses, no período entre Janeiro de 2011 e Dezembro de 2016.
Resultados: Durante este período, foram internados 681 crianças, das quais 73 (11%) tinham idade igual ou inferior a 12 meses. Cerca de 67% dos doentes foram transferidos de outros hospitais. A média de idade foi de 9 meses, aproximadamente (entre 1 e 12 meses). Verificou-se uma distribuição entre géneros relativamente equitativa. A grande maioria tinha nacionalidade portuguesa, sendo que 2 doentes eram oriundos dos PALOP. Em 61 casos o agente etiológico foi um líquido quente, nomeadamente a água, logo seguida pela sopa, leite, chá, café e óleo. Nove queimaduras foram por contacto em superfícies quentes (ferro de engomar, porta de lareira e forno), 2 por fogo e 1 eléctrica. A face e as mãos foram as áreas mais frequentes atingidas, com uma superfície corporal queimada média de cerca de 8% (entre 2 e 35%), sendo a grande maioria de 2º grau. Todas as queimaduras aconteceram no domicílio da criança com o cuidador presente. O tempo médio de internamento foi de 19 dias (entre 1 e 73 dias). Em 5 casos, houve necessidade de internamento na Unidade de Cuidados Intensivos. Noutros 5 casos registou-se infecção do local da queimadura, com isolamento de microrganismos como Pseudomonas aeruginosa , Staphylococus aureus meticilino-sensível e meticilino-resistente, Serratia marcescens e Proteus mirabilis. Em todos os doentes foram realizados pensos e cuidados fisiátricos, tendo havido necessidade de enxerto cutâneo em 17 doentes e de escarotomias/ fasciotomia em 2 doentes. No seguimento, foram objectivados 6 casos de bridas constritivas com necessidade de intervenção cirúrgica, 1 caso de alopécia e em 22 doentes as cicatrizes eram hipertróficas/ queloides e/ou com discromia.
Conclusões: As queimaduras nas crianças abaixo de um ano de idade são resultado de acidentes no domicílio, pelo que é fundamental apostar numa campanha de prevenção que chegue à sociedade de forma eficaz. É extremamente importante a optimização dos cuidados nos hospitais secundários de forma a minimizar o impacto destas situações, tanto a nível económico como psicossocial.
Palavras-chave: queimaduras, 1 ano de idade, prevenção