1. Serviço de Ortopedia do Hospital de Dona Estefânia, CHLC.
- Poster, Congresso Nacional de Ortopedia, 26 a 28 de outubro, Coimbra, Portugal
Introdução: A luxação da articulação metacarpo-falângica é uma entidade rara na criança. Estão mais frequentemente envolvidos o indicador e o polegar, sendo as luxações dorsais e o mecanismo de hiperextensão os mais comuns. As luxações podem ser classificadas em simples ou complexas, tendo em conta a interposição de partes moles na superfície articular. Nas simples a placa volar não se interpõe na articulação, sendo reduzidas incruentamente. Nas complexas existe interposição de placa volar e/ou sesamóides, pelo que está indicada a redução cruenta.
Material: (2 casos clínicos com suporte imagiológico e fotográfico). Primeiro caso trata-se de uma criança de 11 anos, sexo masculino, que recorreu ao Serviço de Urgência 2 semanas após trauma em hiperextensão do 2º dedo da mão esquerda, no contexto de queda. Clinicamente edema moderado e equimose ao nível da 2ª articulação metacarpo-falângica, com dor à mobilização, sem sinais de compromisso neurocirculatório. Imagiologicamente constatou-se luxação dorsal do 2º dedo. O segundo caso corresponde a um doente de 12 anos, sexo masculino, com trauma directo do polegar com bola de futebol. Objectivamente: edema, dor e deformidade em extensão da 1ª metacarpo-falângica, sem sinais de compromisso neurovascular. Imagens de Radiologia Convencional revelaram luxação dorsal, sem outras fracturas associadas.
Métodos: Tentativa de redução incruenta sem sucesso nos dois casos, inicialmente sob analgesia no Serviço de Urgência e depois sob sedação no bloco operatório. Procedeu-se a redução cruenta por abordagem dorsal, constatando-se interposição de placa volar. Após sutura capsular, obteve-se estabilidade articular. Feita imobilização com tala de zimmer.
Resultados: Não se observaram complicações no pós-operatório. Imobilização foi mantida até às 3 semanas, altura em que iniciou reabilitação. Doentes sem queixas álgicasaos 3 meses de pós-operatório, com mobilidade semelhante ao membro contralateral. Ao fim de 1 ano de seguimento ambos manifestaram-se satisfeitos com a cirurgia, sem história de limitação funcional, rigidez ou recorrência de luxação.
Discussão: Os dois caos descritos corresponde a luxações metacarpo-falângicas complexas, uma delas sub-aguda, com necessidade de redução cruenta. Existem poucos estudos e casos descritos de luxação desta articulação na idade pediátrica. A anatomia da luxação ao nível do polegar é bem compreendida pois a rotura do ligamento colateral, a interposição da placa volar e posição da cabeça do metacarpo entre os músculos tenares são responsáveis pela irredutibilidade da articulação. Quando ocorre ao nível do indicador, o tendão flexor normalmente fica numa posição cubital e os lombricoides radialmente, impedindo a redução. Como em todas as lesões ao nível da mão, o exame neurovascular é essencial, pois esta patologia pode estar associada a trauma significativo. Clinicamente é típica a posição em extensão da articulação metacarpo-falângica e a posição em flexão das interfalângicas. Tentativas de redução repetidas devem ser evitadas nas lesões complexas. O cirurgião deve conhecer bem a anatomia da mão de forma a prevenir lesões iatrogénicas e promover a reconstrução correcta. Após redução, deve ser feita imobilização da articulação em cerca de 20º de flexão. É imperativo a mobilização precoce para evitar a rigidez articular.
Conclusão: As luxações metacarpo-falângicas são raras na criança. As luxações dorsais simples são normalmente reduzidas incruentamente com sucesso. Se estivermos perante uma luxação complexa irredutível, esta deverá ser abordada cruentamente e seguir um protocolo de mobilização precoce. Os autores apresentam 2 casos de luxações complexas irredutíveis em idade pediátrica, ambas dorsais, mas uma ao nível do 1º raio e a outra ao nível do 2º raio.