1- Unidade de Infeciologia, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa
2- Serviço de Neurologia Pediátrica, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa
3- Serviço de Neurocirurgia, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa
- XV Jornadas Nacionais de Infeciologia Pediátrica, 04 e 05 de maio de 2017
Resumo:
Introdução. Streptococcus intermedius, anaeróbio aerotolerante, reside na flora comensal da cavidade oral, trato respiratório superior e gastrointestinal. Contudo, pode comportar-se como patogénio oportunista, associando-se a abcessos do sistema nervoso central (SNC).
Relato de caso. Caso 1. Criança, seis anos, com pansinusopatia que motivou 12 dias de internamento, medicado com amoxicilina/ácido clavulânico, durante 10 dias. Após a alta, refere prostração, cefaleias, fotofobia e recusa alimentar com duas semanas de evolução, associando-se hemiparesia direita, vómitos e febre no dia de internamento. À admissão apresentava Glasgow 9-10, rigidez da nuca, anisocoria, hemiplegia direita e paresia facial central homolateral. A TC-CE e a RM-CE revelaram abcesso cerebral parietal esquerdo, empiema parafalcino esquerdo e provável cerebrite. Iniciou cefotaxima, metronidazol e vancomicina, tendo sido submetido a craniotomia descompressiva e drenagem do empiema e abcesso. No pus do abcesso cerebral foi isolado Streptococcus intermedius. Ao sétimo dia de internamento foi diagnosticada trombose venosa do seio lateral e seio sigmoideu esquerdo. Teve alta às nove semanas, com hemiparesia direita e sinais piramidais, medicado com amoxicilina/ácido clavulânico, mantendo enoxaparina, fenitoína e fisioterapia.
Caso 2. Adolescente, 12 anos, com antecedentes pessoais de sinusite crónica e cáries dentárias em tratamento. Refere seis dias de evolução de cefaleia retro-ocular direita e frontal, persistente e de agravamento progressivo, vómitos e diminuição da força muscular no hemicorpo esquerdo. À observação apresentava Glasgow 12, febre, rigidez da nuca, hemiparesia esquerda com sinais piramidais e extrapiramidais, paresia facial ipsilateral e sinais de hipertensão intracraniana. A RM-CE revelou pansinusopatia inflamatória de predomínio direito complicada de empiema subdural, provável meningite e cerebrite frontal direita. Medicada com vancomicina, ceftriaxona e metronidazol e submetida no imediato a cirurgia. No pus dos espaços epidural e subdural foi isolado Streptococcus intermedius. Teve alta às sete semanas, mantendo antibioterapia com cefuroxima e clindamicina.
Conclusões. Embora raros, os abcessos do SNC por S. intermedius são infeções graves e potencialmente ameaçadoras de vida. A sinusopatia é um factor predisponente conhecido, sendo comuns os sinais neurológicos focais na apresentação clínica. A ressonância magnética é o exame de imagem recomendado para o diagnóstico e seguimento. Apesar da sensibilidade e boa resposta aos antibióticos, o risco de sequelas é elevado.
Palavras Chave: abcesso, sistema nervoso central, Streptococcus intermedius