1 Interno de Pedopsiquiatria, Área da Mulher, da Criança e do Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa;
2 Chefe de Serviço Hospitalar de Pedopsiquiatria, Área da Mulher, da Criança e do Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa.
Póster apresentado no Congresso Nacional da Associação de Psiquiatria da Infância e da Adolescência
Introdução
Ao longo dos anos, vários autores alertaram para a influência da relação cuidador/bebé no desenvolvimento psicoafetivo da criança. Estudos recentes têm corroborado estas teorizações, sugerindo que a qualidade das relações precoces contribui para o desenvolvimento da personalidade e para a qualidade das relações estabelecidas no futuro.
Na DC0-3, o Eixo II corresponde à perturbação da relação estabelecida entre o cuidador e a criança. Embora as perturbações da relação sejam amplamente abordadas, os estudos que se focam neste eixo são ainda escassos.
Objetivo
Pretende-se caraterizar o diagnóstico de eixo II de uma amostra e determinar quais os fatores que podem contribuir como protetores ou de risco para o desenvolvimento de uma perturbação da relação.
Métodos.
Foram incluídas as crianças observadas em 1ªconsulta, na UPI, durante o ano 2016.
Procedeu-se à consulta do processo clinico e ao preenchimento de um questionário com as variáveis em estudo. Os dados foram tratados em SPSS.
Resultados
Em 84% dos casos encontrou-se algum tipo de dificuldade na relação cuidador/criança. Destas, 55% apresentava tendência a perturbação e 29% apresentava relação perturbada.
A relação do tipo subenvolvida foi a mais frequente.
Não se encontrou uma relação estatisticamente significativa entre a presença de uma perturbação da relação cuidador/criança e o género, existência de diagnóstico de Eixo I, doença médica, tipologia da família ou posição da criança na fratria. Encontrou-se uma relação estatisticamente significativa entre a existência de psicopatologia materna e o diagnóstico de Eixo II (p=0,018*). Não se encontrou associação entre a existência de diagnóstico psicopatológico no pai e diagnóstico de Eixo II. O diagnóstico psiquiátrico mais prevalente na mãe foi a perturbação depressiva (59%).
Conclusões
Sabe-se que a indicação terapêutica mais frequente quando existem dificuldades de relação é a psicoterapia cuidador/criança, havendo uma associação entre o inicio da psicoterapia numa idade inferior a 24 meses com uma melhor evolução das relações. Contudo, este estudo alerta também para importância de um diagnóstico e intervenção precoce da psicopatologia materna de forma a prevenir a instalação destes quadros. Adicionalmente reforça a importância de uma proximidade e articulação entre os serviços de psiquiatria e pedopsiquiatria.
Palavras Chave: Perturbação da relação cuidador/criança; Primeira Infância