(1) Medicina Física e de Reabilitação, Pólo de MFR do Hospital de S.José, Unidade Músculo-Esquelética, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa
(2) Hospital de Dona Estefânia – Serviço de Medicina Física e de Reabilitação Pediátrica, Area da Mulher ,da Criança e da Adolescência, Centro Hospitalar Lisboa Central
Apresentado como sessão clínica no serviço de MFR Pediátrica do HDE
Resumo:
Introdução: A paralisia cerebral corresponde a um crupo de doenças do desenvolvimento que causam dano no sistema nervoso em desenvolvimento do feto ou criança até aos 5 anos. As manifestações são classicamente motoras, acompanhadas de alterações da sensibilidade, cognição, comunicação, percepção e comportamento. A sua incidência é de 2-2.5/1000 nados-vivos e o evento desencadeante pode ocorrer em qualquer altura do desenvolvimento pré-natal até aos 5 anos. A abordagem e o tratamento são multidisciplinares, visando prevenir e/ou tratar complicações, optimizar a função e promover a autonomia e independência. A neuroplasticidade, conceito relativamente recente, envolve três componentes essenciais: redundância de vias nervosas; cérebro é plástico e adapta-se às circunstâncias; quando há um insulto ocorre uma reorganização arquitectural e funcional. Atendendo ao conceito de neuroplasticidade aplicado à paralisia cerebral, surgiu o conceito de terapia de restrição induzida por movimento (CIMT) em bebés até um ano, que procura optimizar a imaturidade das vias nervosas e o seu potencial de remodelação neuronal com máxima optimização funcional.
Discussão: CIMT diz respeito a um treino intensivo e específico dos membros paréticos através de exercícios task-specific, restrição física do membro “saudável” com vista à estimulação da utilização do membro afectado. Desenvolvido originalmente para adultos com AVC, com parésias dos membros superiores. Forte evidência favorece a utilização do CIMT na função motora, coordenação braço-mão e na auto-percepção da funcionalidade. Neste contexto nasceu o Baby-CIMT, um programa de reabilitação para bebés até um ano em risco de desenvolver paralisia cerebral unilateral, correspondendo a uma adaptação do CIMT original adaptado ao bebé e às suas especificidades, com vista à optimização funcional do membro afectado. A intervenção precoce é fundamental uma vez que a neuroplasticidade induzida pela aprendizagem tem um grande impacto no desenvolvimento do SNC. A estimulação afecta a actividade no cortex motor e sensitivo e em idades precoces o sistema cortico-espinhal está em constante optimização no que diz respeito à função de ambas as mãos; estas mudanças são actividade-dependentes. Conceito de feedback on performance, altamente sensível ao reforço positivo. O programa deverá iniciar-se se assimetria na funcionalidade entre os dois membros (mãos), entre os 3 e os 5 meses e o foco deverão ser as acções auto-iniciadas. Trata-se de um protocolo simples, que promove a interacção entre a criança e os pais e que deve ser realizado no domicílio com supervisão médica.
Conclusões: Apesar de já ser utilizado em crianças com mais de dois anos com bons resultados, não existia nenhum protocolo para menores de um ano. Os resultados são muito satisfatórios. As crianças que integram o programa Baby-CIMT apresentam um nível funcional aos dois anos superior às crianças que integram outros programas. A capacidade unimanual parece ser optimizada. A coordenação braço-mão, motricidade fina, capacidades funcionais e independência parecem ser superiores. O Baby-CIMT parece apresentar evidência científica que sustenta a sua integração numa abordagem multimodal nas crianças com paralisia cerebral e menos de um ano de idade.
Palavras Chave: Paralisia Cerebral; CIMT; reabilitação, funcionalidade