Unidade Nefrologia Pediátrica, Área da Mulher, da Criança e do Adolescente, CHLC, EPE
- Curso de Nefrologia Pediátrica “A criança com doença nefro-urológica”, 26 e 27 de Janeiro de 2017, Lisboa (oradora).
Resumo:
O aparelho urinário é constituído por unidades funcionais que produzem a urina, os rins, e um aparelho excretor (ureteros, bexiga e uretra) que canaliza a urina para o exterior do organismo. O funcionamento do aparelho urinário depende da sua integridade anatómica e funcional. Na maioria das situações patológicas que evoluem com alterações da micção, a perturbação funcional é secundária à existência de uropatia malformativa (espinha bífida, válvulas da uretra posterior, por exemplo), noutras situações a sintomatologia associada ao aparelho urinário tem apenas uma etiologia funcional (disfunção vesico-intestinal, enurese, por exemplo). Conhecer a neurofisiologia do funcionamento do aparelho urinário é essencial para compreender as suas alterações. Em pediatria é importante também conhecer a evolução da aquisição do funcionamento vesico-esfincteriano e vesico-intestinal a partir do nascimento relacionada com a mielinização do sistema nervoso central (SNC) e responsável pela continência de esfíncteres. Tal como noutras etapas do desenvolvimento, fatores culturais, sociais e educacionais têm uma influência que deve ser devidamente valorizada.
A anamnese e um exame físico cuidadoso são tão essenciais na avaliação das alterações da micção como em qualquer outra situação clinica pediátrica. Coadjuvados com um calendário miccional (registo de perdas noturnas de urina) e um diário miccional (registo de frequência e volume das micções, ingesta hídrica, frequência e qualidade das dejecções) por vezes obviam a necessidade de meios complementares de diagnóstico (MCDTs), numa primeira abordagem. Nunca é de mais reforçar que a história clinica e exame físico constituem a principal orientação para o diagnóstico e para a decisão da necessidade de MCDTs nos quais se inclui a investigação urodinâmica.
Nas situações de enurese convém definir o tipo e estabelecer a estratégia adequada. Na maioria dos casos, a estratégia implica o estabelecimento de regras e exige paciência e o compromisso de todos os intervenientes (médico, criança e família). A investigação urodinâmica raramente está indicada na enurese primária monssintomática.
Nas situações de incontinência urinária, a avaliação urodinâmica tem um papel importante na compreensão da sintomatologia, no esclarecimento das decisões cirúrgicas e na resposta ás terapêuticas instituídas. A escolha da técnica mais adequada (urofluxometria, cistomanometria, perfilometria) depende, mais uma vez, da anamnese e exame físico. A investigação urodinâmica tem abordagens invasivas e não invasivas e a adequação dos procedimentos à idade pediátrica condiciona uma correta execução do estudo, influencia a sua interpretação e ulterior aplicação na prática clinica. Os procedimentos urodinâmicos em pediatria requerem uma adequação do ambiente da sala, são morosos, a sua correta execução não se limita a conhecimentos técnicos, implica o desenvolvimento de uma relação de confiança e empatia entre os profissionais, a criança e a família.
Palavras Chave: enurese, estudo urodinâmico, incontinência urinária