1 - Unidade Músculo-esquelética/Medicina Física e de Reabilitação, Hospital S. José, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE, Lisboa
2 - AMCA/Medicina Física e de Reabilitação, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE
Sessão Clínica no S. de MFR do HDE; Dezembro 2016
A monitorização da actividade física em idade pediátrica é um desafio constante na nossa consulta. "Quantas horas?", "Que tipo de exercício?", "Pode fazer musculação?". São algumas das perguntas que nos surgem frequentemente, e que devemos estar preparados para responder. O desenvolvimento do corpo humano nesta faixa etária consiste num processo complexo, constituído por várias fases, e diferentes ritmos de evolução dos vários sistemas. Este heterocronismo obriga-nos a um raciocínio individualizador, rejeitando a visão da criança como uma "redução do adulto". Neste sentido, é importante perceber as particularidades fisiológicas de cada etapa do crescimento, e a forma como podemos trabalhá-las, sem comprometer o desenvolvimento saudável da criança. Existem três formas principais de manifestação de força: força máxima, força resistente, e força rápida. Apenas o treino de força máxima está contra-indicado durante este período, pelo recurso a cargas máximas e submáximas, que poderão comprometer o crescimento ósseo. O desenvolvimento da capacidade aeróbia, anaeróbia, massa muscular, activação neuromuscular e coordenação motora pode e deve ser trabalhado nestas idades, de forma dirigida e individual. O treino de força, quando prescrito e realizado de forma correcta, apresenta vários benefícios, entre os quais o aumento da densidade mineral óssea, massa muscular e força absoluta e relativa, assim como diminuição da massa gorda. Este tipo trabalho também apresenta um papel importante na prevenção de lesões e correcção postural. Estes benefícios são relevantes no rendimento desportivo de atletas de alta competição, assim como na saúde e qualidade de vida das crianças que encaram o desporto de forma mais lúdica. Ao contrário do que se poderia pensar, estudos mostram que crianças com menos de 12 anos beneficiam do treino de força, e que em sentido oposto aos adultos, estas tiram maior proveito de séries de várias repetições com pesos leves, em vez de menos repetições com cargas maiores. O recurso a pesos ou máquinas de musculação, muitas vezes excluído dos programas de treino de jovens em prol de exercícios com o peso do próprio corpo, parece ser uma mais valia no controlo das cargas, que devem ter um carácter progressivo mediante evolução e capacidade da criança. Perante esta revisão, podemos concluir que o treino de força é benéfico para o desenvolvimento da criança, devendo ser planeado e supervisionado por profissionais competentes, respeitando os princípios de periodização e intensidade indicados para as várias fases do crescimento. Cremos que o papel do médico será de extrema importância, na avaliação pré-treino, assim como na sua monitorização.
Palavras Chave: Treino de força, Jovem, Rendimento desportivo, Saúde