1 - Interna de Formação Específica da Especialidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência, Área de Pedopsiquiatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE, Lisboa;
2 - Chefe de Serviço da Unidade da Primeira Infância (UPI), Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE, Lisboa.
- XXVII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência – Histórias de Vida, Percursos de Sobrevivência: do(s) Risco(s) ao(s) Projeto(s), de 18 a 20 de Maio de 2016 (Poster).
Introdução: A Unidade da Primeira Infância - CHLC, criou o programa "How are you now?" de follow-up, onde avalia longitudinalmente as crianças atendidas nesta unidade. No follow-up dos anos 2008-2011, verificou-se uma associação significativa entre o diagnóstico de Perturbação Regulatória do Processamento Sensorial (PRPS) e resultados anormais nas subescalas do SDQ (Questionário de Capacidades e Dificuldades) de problemas de hiperatividade e comportamento. Este resultado reforça o que está descrito em alguns estudos, que mostram que as crianças diagnosticadas com PRPS médias a severas têm maior risco de apresentar dificuldades percetivas, de linguagem, de integração sensorial, emocionais e comportamentais nas idades pré-escolares. Estes resultados levantam a questão acerca de se este diagnóstico deveria ter correspondência na DSM-5 ou se constitui uma condição pré-mórbida para o desenvolvimento de outras patologias e quanto à necessidade de se reforçar o acompanhamento clínico destes casos.
Objetivos: Caracterizar a amostra das crianças com diagnóstico de Perturbação Regulatória do Processamento Sensorial que recorreram à consulta de pedopsiquiatria nesta Unidade nos anos 2008-2011. Relacionar o tipo de intervenção realizada nas crianças com diagnóstico de Perturbação Regulatória do Processamento Sensorial com os resultados obtidos no follow-up “How are you now?”.
Métodos: Estudo Retrospectivo recorrendo a consulta de Processos Clínicos de primeiras consultas e ficha de follow-up (inclui escala SDQ-por) de crianças com diagnóstico de PRPS, cuja primeira consulta foi realizada entre os anos de 2008 - 2011 na UPI. Tratamento de dados: SPSS® (v10.0.1).
Resultados: No Follow-up dos anos 2008-2011 participaram 465 crianças, das quais 255 (54,8%) têm diagnóstico de Eixo I (DC:0-3R). Destas, 40 crianças têm diagnóstico de PRPS (15,7%) - excluídas 3 crianças por dados incompletos (n amostra: 37). Nas crianças com PRPS, o subtipo mais prevalente foi o Hipersensível em 18 (48,6%), seguido do tipo Procura Sensorial/Impulsivo com 32,4%. À data da primeira consulta, 13 crianças já tinham intervenção (9 Terapia Ocupacional – T.O, 5 Intervenção Precoce – I.P e 3 Terapia da Fala – T.F). Ao longo do acompanhamento 14 crianças beneficiaram de T.O (37,8%) e 14 de I.P (37,8%). Relativamente à intervenção na UPI: 5 crianças foram medicadas (13,5%), 5 tiveram Psicomotricidade (13,5%), 5 T.F (13,5%), 4 Psicologia (10,8%) e 3 Floortime (8,1%), com frequências de intervenção e duração variáveis (duração média da intervenção: 23,6 meses; min. 1 mês; máx. 97 meses). Analisando estatisticamente e cruzando variáveis, verifica-se que existe associação significativa entre o diagnóstico de PRPS subtipo Hipersensível com resultados anormais nas subescalas do SDQ de problemas de hiperatividade e comportamento. Não existe associação significativa entre o tipo de intervenção, diagnóstico dos Eixos II e III e os resultados do SDQ.
Discussão e Conclusão: Verificou-se uma grande variabilidade do tipo de intervenção adotada e frequência da mesma, o que limita as conclusões sobre a relação da intervenção com os resultados obtidos no follow-up. Existe associação significativa entre o diagnóstico de PRPS tipo Hipersensível e os resultados posteriores obtidos no SDQ comportamento e hiperatividade, o que sugere a existência de continuidade entre este subtipo de PRPS e dificuldades no futuro. Não existe associação significativa entre os resultados anormais obtidos no SDQ comportamento e hiperatividade e o tipo de intervenção, nomeadamente a realização de Terapia Ocupacional, Intervenção Precoce, intervenção prévia à primeira consulta e durante o seguimento na UPI. Estes resultados levam a repensar a intervenção aplicada nestas crianças. O estudo apresenta como limitações o número reduzido da amostra e o facto da informação ter sido obtida de forma indireta através da consulta dos processos clínicos.
Palavras-chave: Perturbação regulatória do processamento sensorial, primeira infância, follow-up.