Centro de Desenvolvimento, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, E.P.E.
- XIII Congresso Nacional de Pediatria, Tróia, 12 de Outubro de 2013.
Em desenvolvimento, a definição de fator de risco é a característica intrínseca ou factor sócio ambiental (extrínseco), que aumenta ou potencia a ocorrência de determinada condição; também pode ser definida como o fator que aumenta a vulnerabilidade de uma criança ou grupo a determinada doença ou conduz a deterioração da saúde ou bem estar.
Mas mais importante que a consideração de fatores de risco considerados isoladamente, é a imperiosidade de ter em mente dois tipos de interação, quando falamos de risco: em primeiro lugar, a interação de crianças do ponto de vista biológico com o seu meio social imediato e próximo – representado pela família ou cuidadores (na ausência da primeira), o denominado microssistema, em que vários processos, acontecimentos e relações ocorrem; em segundo lugar a interação deste microssistema com o ambiente, no seu sentido mais lato (exosistema ou macrosistema, ao longo do tempo (cronosistema)
A área doneurodesenvolvimentoinfantil tem conhecido progressivo interesse por parte dos pediatras nas últimas décadas, fruto do desenvolvimento tecnocientífico na área da Pediatria que permitiu a erradicação de grande parte das doenças agudas, designadamente, as doenças do foro infeto contagioso e a sobrevivência de crianças anteriormente inviáveis. A melhoria dos cuidados assistenciais prestados ao doente pediátrico condicionou uma mudança de paradigma na saúde de crianças, adolescentes e jovens. O acesso a instrumentos terapêuticos no domínio da prevenção primária, secundária e terciária, permitiu direcionar a atenção e cuidados dos pediatras para outras áreas diferentes das convencionais(baseadas no modelo de cuidado hospitalar), para o modelo de cuidados centrado na comunidade e nos cuidados primários.
Desta forma, ao prevenir a doença e promover a saúde, houve a oportunidade de estender a sua atividade a outras dimensões da pediatria. Atuando de forma sinergística, assistimos a uma redução da mortalidade infantil que, por sua vez, gerou novos problemas e morbilidades ou colocou em evidência morbilidades ocultas, definidas nos anos 70, como o conjunto de situações funcionais e fatores sócio ambientais que afetam o desenvolvimento infantil.
Assim sendo, estima-se que, presentemente, 10 a 20% da população infantil apresenta problemas do foro mental e ou comportamental.
A redução da mortalidade infantil, ou seja, a sobrevivência de crianças previamente inviáveis, de que são exemplo os grandes prétermos, condicionaram a evidência e emergência do conhecimento e implicações de condições de vida desfavoráveis, geradoras de stress, grande parte das quais, resultantes do excesso de populações urbanizadas, alterações da estrutura familiar, pobreza e violência.
Neste novo grupo de morbilidades e co-morbilidades estão representadas, entre outros, a a iliteracia, pobreza, negligência, incapacidade intelectual e doença psiquiátrica parental, todas elas geradoras de perturbações neurodesenvolvimentais causadas por falta ou desadequação de estimulação bio-psico-afetiva. A etiologia dos problemas de desenvolvimento infantil é frequentemente atribuível a estes e outros fatores idênticos, pelo que se torna imprescindível conhecer o historial sócio ambiental e demográfico destas crianças e avaliar os múltiplos contextos em que estas crianças vivem desde o nascimento à adolescência e adultícia. A maior parte dos estudos têm-se focado nos comportamentos individuais, determinantes de saúde mental, descurando a repercussão da continuidade dos fatores ambientais adversos no desenvolvimento da criança. A finalidade desta preleção é sublinhar o determinismo imediato e a longo prazo, dos fatores de risco sócio ambientais nas crianças de risco biológico de que são exemplo, entre outros, os grandes pré termos.
Palavras-chave: prematuridade, risco biológico, risco sócio-ambiental.